terça-feira, 29 de junho de 2010

União de futuros Ex-cônjuges aka Casamento

“Blessed is he that expects nothing, for he shall never be disappointed.” Benjamin Franklin, 1739

Hoje não é certamente o melhor dia para escrever, não estou lá muito coerente mas é hoje que me apetece, portanto, aqui fica. Como sempre, aviso-vos que quando falo sobre determinado assunto, não é para ser entendido como uma regra, mas sim como a maioria. Só faço generalizações a 99%, nada pode ser a 100%, há sempre excepções, sendo geralmente essas, as que fazem o mundo ainda valer a pena, como por exemplo os meus pais, que farão 39 anos de casados para o mês que vem e que são o meu melhor exemplo.

Desde tenra idade que nos enchem o imaginário com contos de fadas, príncipes encantados e o famoso “viveram felizes para sempre”. Passamos anos e anos a formar uma ideia de vida perfeita, de um futuro imaculado, em que todas as peças se encaixam. Qual é a brincadeira mais comum com Barbies? Encontrar o príncipe encantado (perfeito em todos os sentidos e temos vários modelos para escolher), o dia do casamento e os rebentos, para completar o quadro perfeito. Neste ponto refiro-me a crianças do sexo feminino (maioritariamente). Os rapazes nestas idades são bastante mais inteligentes, preferem brincar com carrinhos, lutar e jogar futebol, o que é bastante mais útil (e realístico) para o seu futuro.
Os anos passam e as raparigas deixam então as Barbies de lado e tentam começar a jornada da busca do príncipe encantado. Os rapazes mantêm os mesmos hábitos de criança (são criaturas quase imutáveis), acrescentando apenas o interesse por mulheres (geralmente), ou por sexo, para sermos mais exactos. No entanto, as prioridades mantêm-se. Talvez por não existir o conceito de princesa encantada e por não terem o mesmo número de anos dispendidos a pensar no assunto, os homens são muito menos exigentes que as mulheres , neste ponto. O essencial são os atributos físicos, o resto é bónus. As mulheres (quase doutoradas no assunto aos 18), têm uma lista infinita de características necessárias antes dos atributos físicos (sim, a parte monetária entra na lista, podendo vir antes ou depois dos atributos físicos, dependendo do sujeito em questão).
Como se costuma dizer “enquanto não encontras a mulher certa, diverte-te com as erradas”. E é vê-los a mudar de parceira como nós mudamos de roupa. É o dito garanhão, muito aclamado, muito requisitado. Tal como já tinha comentado, parece que quanto maior o currículo de um homem melhor o mesmo, óptimo partido. Por sua vez, uma mulher tem de funcionar ao contrário, quanto mais curto o rol de homens no currículo, melhor. Hei-de perecer a tentar entender isto mas a explicação mais interessante que já ouvi até hoje é a seguinte: uma chave mestra é uma coisa excelente de se ter, abre todas as portas; agora, uma porta que pode ser aberta por qualquer chave ninguém quer, não é uma boa porta. Tem lógica e acho que é das melhoras definições para o sexo masculino, tanto que vou adoptá-la: chaves mestra. Pois bem, chaves mestra é o que não falta por aí (tal como portas com fechaduras muitíssimo simples, algumas até nem necessitam de chave) mas voltemos à noção de príncipe encantado. Cada porta é construída com uma determinada fechadura, fechadura essa que é construída com um chave e é essa a chave que se procura e não uma chave mestra, que pode abrir qualquer porta (isto digo eu, é claro).
Lá chega (ou chegava) uma altura em que a porta acha que encontrou a chave correspondente e a chave (provavelmente por insistência da porta) lá pede à dita porta (ou apenas diz que sim) que contraia matrimónio consigo.
Momento de pura euforia, o momento pelo que a porta sonhou toda a sua vida, desde que era parte de uma árvore, tinha finalmente chegado. Aquela chave era o amor da sua vida, foram feitos um para o outro, encaixavam na perfeição, o click era perfeito, a fechadura iria funcionar até que a morte (ou o caruncho) os separasse. Faz-se uma festa enorme, gasta-se o dinheiro que se tem (e o que não se tem), convidam-se conhecidos e desconhecidos e jura-se amar e respeitar o outro até que a morte os separe, o que equivale aos seus “para sempre”. Afinal a vida é mesmo um conto de fadas, os livros tinham razão, é impossível estar-se mais feliz.

Humm..será? Preciso de factos. Vejamos:

Segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), as uniões são já menos 15 815 do que há dez anos e os divórcios mais 9636. Dos casamentos celebrados (47 857 – menos 814 face a 2005) a percentagem de uniões em segundas núpcias aumentou e é já de 20,6 por cento. Em 2006, verificaram-se 23 935 divórcios, mais 1082 do que em 2005: por cada cem casamentos celebrados em Portugal, foram decretados 48 divórcios. A idade média da dissolução das uniões é de 41 anos para os homens e 39 para as mulheres, tendo o casamento a duração média de 14 anos. Janeiro é o mês em que se realizam menos matrimónios e em que mais vínculos nupciais são dissolvidos, por morte ou divórcio. 47 857 casamentos foram celebrados em 2006, em Portugal, menos 814 face ao ano anterior e menos 15 815 do que há dez anos. Dos matrimónios realizados, 20,6 por cento corresponde a segundos casamentos. 23 935 divórcios foram decretados em 2006.

Ooops!

Ok, vejamos: duração média de casamento 14 anos? (Penso que hoje em dia é no máximo metade disso, mas continuemos) Não era isso que dizia nos livros! Branca de Neve, Cinderela? Afinal fomos enganados durante anos a fio! Os livros acabavam com “felizes para sempre” e não felizes durante os próximos 14 anos! Não estava escrito que após os 14 anos de felicidade decrescente, a princesa e o príncipe passarão por batalhas judiciais intermináveis, o rombo no seu orçamento será trágico e passarão a pais solteiros, com filhos a quem deviam uma infância feliz e completa. Como é bom ser criança (em livros, obviamente).
Qual foi o problema? A chave voltou a ter saudades de ser uma chave mestra? A porta percebeu que afinal aquilo não era uma chave mas sim um martelo? O que aconteceu? Não sou psicóloga nem acho que alguém se deva submeter a uma vida de infelicidade ou menos feliz (pelo menos quem não tem filhos), apenas acho que as pessoas perderam a noção dos sentimentos, do que é uma promessa, de tudo o que a palavra amor engloba e acima de tudo perderam a paciência e a capacidade de conversação, compreensão e de compromisso, de meio termo, dar e receber. Perderam a noção do valor das palavras e dos gestos.
Hoje em dia as pessoas têm uma discussão e a opção é fazer as malas e ir embora, ninguém quer ter o trabalho de resolver nada. Obviamente que há coisas que não têm solução mas muitas delas têm, apenas para a maioria das chaves e portas, não valem a pena o esforço. Há tanto peixe no mar, tanta porta, porquê perder tempo com uma que não esteja a funcionar bem, não é? Compra-se uma nova e pronto. E assim se segue em frente, e o ciclo começa novamente.

Nova porta, novo casamento, provavelmente novos descendentes e temos o conceito de família do século XXI que inclui as madrastas, padrastos, meios-irmão e filhos de madrastas e padrastos, mulher/marido nº1, nº2 e por aí adiante. Agora eu pergunto: ok, faz-se isso a primeira vez, é normal mas..fazer a segunda?! A terceira?!?! Casar 10 vezes como se fosse ir ao cinema? Ter filhos, desta, daquela e do outro? Ir tendo filhos com vários parceiros?? Sinceramente mete-me muita impressão mas talvez seja eu que sou muito esquisita não é? Talvez a minha noção de ridículo seja…..ridícula. É provável.
Como diria Darwin, só sobrevive quem se consegue adaptar portanto, continuarei a ir aos casamentos, tentando adivinhar quanto tempo durará desta vez, quantos filhos nascerão DESSA união, como será a segunda mulher, o terceiro marido e quem dirá pior, de quem hoje, diz ser o seu mais que tudo, a pessoa mais maravilhosa do mundo (passa-se de bestial a besta num piscar de olhos..ou em 14 anos, se formos mais precisos).
Afinal não é o sapo que se transforma em príncipe mas sim o príncipe em sapo. Quem terá deixado publicar aquelas histórias? Uma excepção, provavelmente. Os livros para crianças precisam de uma revolução, e acima de tudo, as frases: “aceita X para ser seu marido” terá de ser substituída por “aceita X para ser seu ex-marido num futuro próximo” e “até que a morte os separe” deve ser urgentemente substituída por “quanto tempo dura o teu para sempre”? Seria muito mais justo e definitivamente mais realístico.