Ora bem, sinónimos de “parvo”.
Humm...idiota? Imbecil? Otário? Tanso? Candidato a bolsas de investigação?
Confere!
Pois bem, não é preciso ter sido
estudante académico para perceber o que exporei em seguida, uma vez que fora do
mundo académico as coisas funcionam da mesmíssima forma (quem não se lembra do
recente anúncio do centro de emprego que só admitiria a Vera?), é problema
global, mas é o descaramento explícito, a falta de preocupação em disfarçar
minimamente, que me leva a dar relevo ao mundo das “bolsas de
investigação”. Eis onde reside a verdadeira comédia.
Recebi mais uma resposta de
umas das dezenas de bolsas de investigação a que me candidato mensalmente. Com
um prazo de resposta máximo de 30 dias,
esta resposta já vinha com vários dias de atraso. A falta de cumprimento de prazo poderia
já sugerir falta de profissionalismo, mas passemos esse detalhe à frente.
Abri o dito email, lá li a típica frase
condescendente “Vimos pela
presente agradecer o seu interesse em colaborar com a nossa instituição, contudo,
lamentamos informar que não foi seleccionado(a)……” pela centésima vez. Poderia
ter parado por aí, já que a resposta estava dada, mas curiosa que sou, resolvi
dar uma espreitadela à tabela de classificações e ver quem teria sido o
afortunado. Na maioria dos casos, a bolsa é atribuída a uma pessoa que, obviamente,
por mero acaso, ou joga futebol com um dos jurados, ou faz parte da "casa", ou por vezes, até partilha DNA com um dos membros do
júri, etc. Há coincidências fantásticas nesta vida, mas deixemo-nos de balelas,
falando sem rodeios, 99.9% das bolsas já estão atribuídas à partida, sendo a
publicação do anúncio uma mera formalidade. Fazem-nos gastar paletes de papel,
pagar correio e gastar tinta, absolutamente em vão. Há até mesmo casos em que é
pedido a possíveis concorrentes
que não se concorra a determinada bolsa de modo a que o processo seja
mais rápido para a pessoa escolhida, a quem a bolsa, ainda não publicada, será
concedida.
É
o mundo em que vivemos. É um mundo de cunhas e assim permanecerá. Agora, o que
me repele, é, tal como disse no início, a já total falta de vergonha e encobrimento.
Se querem atribuir a bolsa a determinada pessoa, escolhendo tudo o que tem no
currículo para pôr nos requisitos do anúncio, chegando mesmo por vezes a
inventar requisitos absolutamente caricatos, do género de pedirem, por exemplo,
experiência em amostragens em barcos de 14,5356 metros, baptizados como "Tretas do
Atlântico", se fôr esse o requisito que distinguirá o indivíduo pretendido num
oceano de pessoas com o mesmíssimo currículo, ou muitas vezes, com um currículo
muito mais vasto e rico, pelo menos que o façam o mais discretamente possível.
Continuei
então, a analisar a tabela de resultados. Temos 4 colunas. 3 delas, relativas a
experiência em determinadas funções e uma quarta, relativa a fluência de inglês,
falado e escrito. Comecei a ver as notas (escala de 0 a 20). Eis que chegamos
ao busílis da questão.
Como
é que se avalia o nível de inglês de uma pessoa, falado e escrito? Talvez seja
eu que tenho uma imaginação limitada mas….só me ocorrem testes. Testes orais e
escritos, como os do British Council, por exemplo. Isso, ou então, numa
entrevista. Não? Alguém tem mais alguma ideia? A verdade é que deve haver outra
forma porque não entreguei nenhum teste, e a mim, ninguém me entrevistou. No
entanto, como que por milagre, conseguiram avaliar o meu nível de inglês. Na
minha carta de motivação e curriculum vitae, está bem explícito que o meu nível
de inglês falado e escrito é excelente, cheguei a utilizar a palavra fluente.
Desde que me lembro de mim como gente que uso o inglês tanto como o português,
sendo o inglês língua oficial do país em que nasci. Nunca tive menos de Muito Bom
a inglês e 20 era a nota média no secundário. Agora a melhor parte. Querem saber
qual a nota que me foi atribuída nesta avaliação paranormal?
……..
………….
(Wait
for it)
…………….
……………..
Um
mísero e singelo…3.
…………
…………
………….
Sim, leram bem, não falta nenhum número,
é mesmo um 3. Como se o 3, por si, não fosse suficientemente cómico, reparei
que só duas pessoas, em dezenas, tinham tido pior nota do que eu. Um deles
teve 0, pelo que deduzo que seja mudo e desprovido de braços. A nota máxima
atribuída foi um 16 (tem nome tuga mas devia ser bifa, provavelmente). Já não é
a primeira vez que uma coisa destas me acontece, tendo já ficado abaixo de
outros candidatos (cujo nível de inglês conhecia muitíssimo bem e era muitíssimo
mais baixo do que o meu), exacta e unicamente devido à nota do nível de inglês,
falado e escrito.
Portanto,
meus caros, achei que seria egoísta de minha parte, especialmente em tempos de
crise (para alguns), guardar algo tão hilariante só para mim e se restava
alguma dúvida sobre fenómenos paranormais, as atribuições de classificações em
bolsas de investigação vêm demover qualquer apreensão.
Poderia
pensar que ao escrever isto estaria a eliminar para sempre qualquer hipótese de
algum dia me ser atribuída alguma bolsa, mas perder o que quer que seja,
implica que alguma vez tenhamos tido a oportunidade de a ter não é? Portanto,
tranquilamente vos digo: “não corro o mínimo risco”.