domingo, 31 de maio de 2009

Tempus fugit

"The clock is running. Make the most of today. Time waits for no man. Yesterday is history. Tomorrow is a mystery. Today is a gift. That's why it is called the present."
Já alguma vez ouviram alguém, ao experimentar umas calças ou uma blusa que adoram mas que lhes fica tão apertada que é necessária uma agilidade digna de um ginasta olímpico para conseguir apertar o último botão, proferir a seguinte frase: “Está um bocadinho apertado mas é uma peça tão bonita que eu vou levar na mesma. Para além disso, vou emagrecer, daqui a uns meses já me serve.”?
Acho que é extremamente positivo ter objectivos tanto a curto como a longo prazo, sem esperança o que seria de nós não é? O problema não é esse, o problema é a convicção de que o amanhã chega sempre e que certas coisas só acontecem aos outros. A segurança que a maioria das pessoas partilha.
Certo dia estava eu a ver um filme extremamente sangrento e com inúmeras torturas sádicas à mistura quando chega uma pessoa amiga e me diz: “Não sei como consegues ver essas coisas, isso é fantasia, não acontece na vida real.” O filme era o Hostel 2. Para quem não viu o filme, de uma forma muito resumida, trata-se de um grupo de amigas que sendo turistas se tornam um alvo fácil para as experiências de um grupo de indivíduos com gostos macabros. Não acontece?!
Será que a muralha da China não existe? De vez em quando aparece na televisão e ouço falar dela mas nunca a vi ao vivo, começo a duvidar. É preciso ser parte integrante de algo para se poder acreditar? Sentir na pele?
A maioria das pessoas acha extremamente hilariante que eu, sendo rapariga de perto de ¼ de século não conduza às tantas da madrugada e não ande sozinha por todo o lado após o lusco fusco. Os nomes variam mas geralmente resumem-se a medricas. Acho curioso. Segundo o meu particularíssimo ponto de vista denomina-se consciência, ter noção da realidade. Voltamos à visão de conto de fadas que as pessoas têm do mundo em que vivem, especialmente de que são intocáveis. Será que já vi filmes a mais? Noticiários a mais? Documentários a mais? Li jornais a mais? Não me parece.
Lembro-me do jogo da roleta russa. Um tambor para 6 balas..se puser apenas uma bala tenho boas probabilidades de ao premir o gatilho continuar viva. Isto para mim é o dia-a-dia, há sempre uma bala na câmara, 24 horas por dia. Obviamente, quanto mais balas puser na câmara maior a chance de ir desta para melhor. Tal como, consoante os locais a que se for e consoante os horários e companhia que se tiver, aumenta ou diminui a probabilidade de algo menos bom acontecer. Ok, agora vocês dizem: “Pode haver um tremor de terra e cai-me o tecto em cima, morro na minha cama ou engasgo-me com um caroço de cereja e bato as botas." Perfeitamente. Daí a tal bala que está sempre presente no tambor da vida. É como ir acender uma fogueira e tomar banho em gasolina antes, deixar os filhos com um pedófilo. Pode acontecer e pode não acontecer. Jogar pelo menos arriscado é ser cobarde? Eu chamo-lhe prudência, sensatez. Acontece sempre aos outros..até nos acontecer a nós. De qualquer modo faço votos para que a noção de fantasia se mantenha (exclusivo para todos os que me são queridos e/ou merecedores).
Outra coisa curiosa na maioria dos seres humanos: só dão valor às coisas quando as perdem, só dão valor ao tempo quando percebem que é limitado. Desde pequenos que nos dizem: “Um dia quando fores velhinho”. Quem disse que chego lá? Obviamente todos esperamos atingir essa fase mas não é uma garantia. Temos sempre a noção de que a família, amigos, cara-metade vão estar sempre presentes e portanto a maioria das pessoas age como se todas essas pessoas bem como o tempo que ela própria tem de vida fosse um dado adquirido, uma garantia. O trabalho é sempre prioritário, a conta bancária, o prestígio, sendo a maior parte do seu tempo dedicado a essa parte. Um dia alguém me disse que amor não paga dívidas. Realmente não paga, correctíssimo. Se já temos o amor, não precisamos de nos preocupar com essa parte, preocupamo-nos com as dívidas, fazemos por não ter dívidas, quando estivermos financeiramente bem (o que raras vezes acontece) depois teremos tempo para o resto. Voltamos à visão futurista. Imaginemos que conseguimos o tal almejado sucesso. Poderá uma conta de milhões salvar alguém com uma doença terminal? Comprar mais tempo? Será preciso alguém um dia fazer um exame médico e descobrir que tem uma doença terminal, apenas alguns meses de vida para as prioridades serem as correctas? Para se ver para além do sucesso, prestígio e contas bancárias? Longe de mim dizer que uma conta bancária choruda é pouco importante e que não devemos fazer por isso (sou consumista por Natureza), apenas acho que não vem em número 1 na lista da vida.
Talvez para a maior parte das pessoas seja necessário perder alguém que se ame, deparar-se com uma doença grave na família, ter um acidente grave, ser raptado, ver a vida por um fio. O exemplo alheio nunca é suficiente, é sempre preciso passar pelas coisas infelizmente e mesmo assim a maioria não muda.
Acho que nunca é tarde para se reorganizar prioridades e dar valor ao que realmente importa e para se ter noção de que a única coisa certa na vida para além da morte é a mudança. Hoje pode ser o nosso último dia, amanhã um dos nosso pais pode falecer, aquele pessoa de que tanto gostamos pode morrer daqui a 1 ano, daqui a 1 semana podemos fazer um simples exame médico e descobrir que temos 6 meses de vida. Mudavam alguma coisa na vossa vida? Alteravam prioridades? Viviam de outra maneira? Seja qual for a resposta, está sempre dependente de factos e suposições nunca alteram nada, só se tem noção quando a catástrofe acontece, e aí, geralmente é tarde demais, mas é assim o ser humano.
No entanto, nada é tão esperado como o inesperado e de um dia para o outro tudo muda.
“Live as if you were to die tomorrow. Learn as if you were to live forever.” , já dizia Mahatma Gandhi

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Laços

Conhecem aquele provérbio que diz que o sangue fala mais alto? Tenho alguma dificuldade em perceber (mais uma adição à infinita lista). Desde cedo que ouço dizer isto e apesar de entender até certo ponto, não acho absolutamente correcto e reformularia para “Os sentimentos falam mais alto”. Acho que o que conta não é a partilha de genes mas sim o sentimento, o laço existente entre pessoas. Família todos têm ou tiveram e não se escolhe. É uma questão de sorte. Como seres humanos, com personalidades distintas, obviamente não nos conseguimos dar com todos os representantes da espécie e não me parece que o sangue ajude alguma coisa neste ponto.
Não sei se a ideia de que se tem que gostar de todos os familiares provém do facto de geralmente serem pessoas com quem lidamos desde o berço (na maioria das vezes). Talvez venha daí. E neste ponto provavelmente já pareço alguém anti-família, o que não é de todo, o caso. Apenas não entendo porquê que sangue e afeição têm de estar directamente relacionados. Quem não ouviu crianças dizerem: “Não gosto da tia X, não suporto o primo Y e por favor não me obriguem a ir visitar o bisavô K?” e receberem respostas do género: “Tens que gostar, é tua tia” ou “ tens de ir, é família”. Estava na fase da infância mas passemos à adolescência e às discussões entre pais e filhos porque os rebentos preferem ir sair com os amigos ou estar com as caras-metade da altura do que ir jantar à casa da tia-avó ou aos anos do primo que é a criatura mais insuportável do mundo? A frase chave é sempre a mesma, “Tem de ser, é família”. Cenas recorrentes.
Não acho que as pessoas tenham que ser almas gémeas para nos darmos com elas e que se não convivermos isso signifique que gostemos pouco delas, nada disso. Acho que se pode gostar muito de seres humanos completamente diferentes de nós e podemos mesmo estar lá para eles quando necessário, apenas não conseguirmos conviver com eles regularmente por choques extremos de personalidade. Mas sejamos francos, noutros casos não gostamos mesmo das pessoas, por mais genes que tenhamos em comum, não há nada a fazer. Devo ainda acrescentar que muitas vezes estas insistências nas idas a habitações de parentes tem a ver com exibição da prole, coisa que a maioria (se não todos) dos progenitores adora (mesmo que não haja nada digno de exibição).
"Don't pity the girl with one true friend. Envy her. Pity the girl with just a thousand acquaintances."- Katie Obenchain
Sangues à parte, o que são amigos? Sinceramente não me interessa minimamente o teste de DNA mas sim os laços criados. Um primo, tio, avô, irmão, Pai, até mesmo Mãe, são amigos porque existem genes comuns? Num mundo ideal os progenitores são os melhores amigos e quem mais ama o seu rebento mas não me parece que estejamos no planeta correcto. Quantos pais abandonam e maltratam os filhos? Têm genes mudos? Será? Não me parece.
Porquê que um parente tem prioridade em relação a um amigo apenas porque tem algum sobrenome em comum? Porque nos conhece desde que nascemos? Viu-nos de fralda? Costuma-se dizer que amigos, namorados, maridos, vão e vêm, mas a família fica. Até aí concordo, não se pode alterar esses graus de parentesco e talvez na maioria dos casos funcione mesmo assim, espero que sim, apenas não acho que se possa ser radical a esse ponto.
Independentemente do tempo de vida que se tenha, toda a gente tem momentos bons e maus na vida. Para mim, o verdadeiro amigo é quem está presente em ambos. É a pessoa que pergunta se estamos bem e que curiosamente espera pela resposta e que não se contenta apenas com a resposta mas também com a expressão e tom que a mesma alberga. É a pessoa que provavelmente preferia estar noutro lugar quando precisamos dela mas não está, está ali. É a pessoa, que aconteça o que acontecer sabemos que vai estar lá, independentemente de estarmos certos ou errados. É a pessoa que nos conhece melhor que ninguém mas mesmo assim gosta de nós e nos aceita tal como somos. É a pessoa que esteve sempre lá e que sabemos que vai estar sempre. Isso para mim, é família, com ou sem genes em comum.
Pode ser a nossa mãe, pode ser um amigo de infância, pode ser uma cara metade, pode ser o irmão, o vizinho, seja quem for. Podemos gostar muito de alguém que é a antítese da nossa personalidade, podemos detestar alguém que é o nosso reflexo, podemos criar uma empatia inexplicável com alguém que conhecemos há 5 minutos bem como podemos passar 10 anos a conviver com alguém e continuar a ser uma tortura. Não se explica, sente-se.
É uma questão de sentimento e não de genética. Mas isto, digo eu.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Artes de Pesca

Pesca..captura de organismos aquáticos para diversos fins, como por exemplo alimentação ou recreação.
Existem várias artes de pesca, sendo a sua selectividade variada. A selectividade da arte não depende apenas do que se quer pescar mas também do esforço e tempo que se pretende dispender na captura.
Temos a pesca de arrasto, tão comum...venha o que vier, sem diferenciação. Se entrar no limite é capturada, sem olhar a consequências. Efeitos da pesca de arrasto podem se detectados por satélite, tal a sua intensidade, e os danos duradouros, muitas vezes irrecuperáveis. O que interessa é capturar, danos colaterais há sempre não é? Também não será o pescador a preocupar-se com isso, o problema é do ecossistema, este que recupere.
Passemos à pesca com anzol, como a pesca com palangre por exemplo. Este tipo de pesca é extremamente selectiva, uma vez que consoante o tamanho e formato do anzol utilizado bem como o tipo de isco, a pesca é direccionada para uma espécie específica. Requer bastante mais tempo e um conhecimento profundo da espécie que se quer capturar, é necessário determinar previamente a espécie-alvo. Uma arte utilizada por poucos hoje em dia.
Há quem defenda o isco e há quem defenda o anzol. Qual deles tem maior importância? Segundo as minhas convicções o essencial é o anzol mas anzol sem isco é apenas um anzol, com baixa probabilidade de despertar o interesse do peixe por si só. Ou seja, se queremos que o peixe se aproxime do anzol é essencial um isco, algo que o atraia até ao anzol. Após atraído pelo engodo, entra então o anzol em acção e aí, apenas a qualidade do anzol é relevante. Um anzol de qualidade conseguirá reter o peixe, enquanto um anzol mais comum, menos detalhado provavelmente reterá o peixe apenas por algum tempo. É necessário o isco indicado à espécie a capturar, mas sem um anzol de qualidade, o peixe não ficará retido.
O isco pouco dura, o anzol, esse, permanece.

domingo, 3 de maio de 2009

Álcool

Mês de Maio, semanas académicas. Agrupamento de estudantes, Álcool.
Continuando com a minha teoria de que a população mundial pode ser dividida em pessoas do tipo X e Y, aqui fica mais um post sobre um dos mistérios X que hei-de falecer sem compreender na sua totalidade.
Tenho quase ¼ de século de existência e as minhas experiências com álcool resumem-se a um molhar de lábios com vinho do porto. Acreditem ou não, é a mais pura verdade. Ainda hoje muito boa gente perde apostas graças a esta minha qualidade (segundo o meu ponto de vista), atraso (segundo a maioria dos pontos de vista). A maior parte das pessoas acha hilariante e que sou a comédia personificada. Este “comportamento de desvio” é partilhado pelo meu irmão, mais velho do que eu. Daí, a maioria das pessoas pensa: “Ah, isso são os pais.”
Tem a sua piada, uma vez que o que está implícito neste tipo de comentário é que os pais provavelmente proibiram as pobres almas de tocar em determinadas substâncias, ou são alcoólicos e os pobres rebentos ficaram traumatizados com os exemplos paternos ou de alguém na família. Lamento informar os inúmeros elaboradores da teorias mas nenhuma se aproxima da verdade. Ambos os progenitores dos “desviados” apreciam um bom copo de vinho à refeição em determinadas ocasiões. Peço especial atenção para o pormenor do “um”. Nunca ocorreu a mínima tentativa de afastar a descendência do “diabo líquido”, tendo surgido a proposta em inúmeras ocasiões.
Assim, é uma opção pessoal. Não vou igualar álcool a droga mas o nível de atracção que provoca em mim é exactamente o mesmo. Chamem-me comichosa mas o cheiro por si só repele-me. Recorda-me aqueles xaropes que por vezes se tem de tomar mas em que se cobre as fossas nasais devido ao odor.
No entanto, apesar de não ser adepta eu consigo perceber que alguém tome um copo ou outro em determinadas ocasiões. Se me disserem que tiram algum prazer disso, que o sabor é fenomenal, que uma cerveja gelada no Verão sabe super bem, ok, não digo nada, até aí o meu cérebro limitado consegue alcançar. O busílis da questão não é o álcool em si, mas sim a quantidade ingerida. Volto a frisar, a quantidade ingerida.
O que é que leva uma pessoa sã a marcar “bubas”?! “Então, hoje vamos jantar fora? Um cinema? Vamos ver um jogo? Vamos andar de barco? Está um dia magnífico”, ok...agora, “Vamos apanhar uma buba hoje à noite?” O meu cérebro entra em bloqueio..mas pelas reacções dos participantes nestes sábios diálogos isto equivaleria a alguém dizer-me: “Pá, olha, ganhei o euromilhões, vou dar-te uma parte.” A mim, particularmente, quando ouço a célebre frase, o meu cérebro problemático faz a seguinte tradução: “Vamos tornar-nos mentalmente atrasados e perder completamente a dignidade? Com sorte fazemos uma competição de regurgitamento e acabamos a noite ou no hospital ou com alguém desconhecido sem nos lembrármos de metade. Vai ser o máximo.”
Por favor, elucidem-me. Já ouvi “n” explicações e a maioria delas resume-se a “esquecer os problemas” e “tornar-me mais desinibido”.
Quanto à primeira, não sei se sou só eu que reparo mas os problemas permanecem após o efeito do álcool, álcool não afoga mágoas e na maior parte das vezes o indivíduo acaba com ainda mais problemas na fase pós-alcool do que começou. Curiosidades. A explicação da desinibição...falta de personalidade será mais preciso. Necessitar de “extras” para ser a pessoa que se queria ser, para adquirir coragem para fazer coisas que de outro modo não se conseguiria fazer para mim é apenas falta de personalidade e uma farsa. Mas mais uma vez, é apenas a minha humilde opinião, sou apenas uma pessoa “desviada”.
Não tenho nem nunca tive espírito de manada e não tenho a mínima dificuldade em utilizar a palavra “não”. No entanto, acho que é aí que reside a resposta às perguntas que fiz anteriormente. Quem não bebe é o dito “betinho”, “mariquinhas” e, supostamente, excluído socialmente. Quem não segue a manada geralmente fica sozinho, não é aceite e como se costuma dizer, se não os consegues vencer junta-te a eles.
Honestamente, acho que se as pessoas fossem filmadas no seu estado alcoolizado e essa gravação lhes fosse mostrada no seu estado sóbrio duvido muito que voltassem sequer a tocar em álcool. Também é algo a que ninguém vai aderir, havendo também a dificuldade de encontrar um cameraman sóbrio, claro.
Apesar de nunca ter bebido, tenho uma vasta experiência em pessoas alcoolizadas, amigos e desconhecidos, o que ainda reforça mais a minha opinião sobre o álcool. Tenho que admitir que numa fase inicial algumas pessoas até me divertem um pouco e se tornam bastante mais interessantes do que no seu estado normal mas dum modo geral, as cenas são deploráveis. Já vi de tudo.
Outro ponto que me ultrapassa. Ainda há poucos meses tive um intoxicação alimentar grave, podia ter formado um novo oceano de conteúdos estomacais e digo-vos, nunca me senti tão mal fisicamente. Só a possibilidade de poder regurgitar deixa-me aterrada, o que ainda aumenta o mistério que envolve o excesso de álcool, para mim. Como é que além de perder completamente a dignidade, alguém pode induzir um processo que vai culminar em dores de cabeça e má disposição? Transcende-me de sobremaneira.
Acho fantástico o orgulho que demonstram após esses eventos, pelos vistos quanto mais se conseguir ingerir mais estatuto se tem. Conheço pessoas com graves problemas de fígado nos seus 20 e poucos. Mas o que é um fígado comparado com um estatuto social mundialmente reconhecido nas comunidades académicas e as inúmeras histórias de que se poderão gabar? Quem não quer ser detentor do título de maior ingestão de cerveja, de maior número de bubas? Existe orgulho maior? Nada é mais importante que ser aceite não é? A dignidade que vá para as urtigas, quem precisa disso? Venha a hepatite alcoólica e a cirrose, a gastrite, pancreatite e a hipertensão, só não se perca a inserção social! Cheers!!