quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Imago tenebrarum


"Kiss thy lips and you will see what thou create." Santosh Kalwar 


Este é o tipo de post que não me dá grande regozijo por ser sobre algo deveras perturbador, mas que, sendo impossível ignorar o ambiente que me rodeia, se torna imperativo. Vou tentar torná-lo curto (de modo a manter aquela sensação desagradável na zona abdominal, que é como quem diz “náusea”, presente durante o mínimo período de tempo possível).

Ora, comecemos com uma definição muito simples: zonas erógenas. "Zonas erógenas são determinadas partes do corpo onde o toque pode causar excitação sexual." Simples. Temos várias, mas foquemo-nos numa: os lábios.“

Não é preciso ser cinéfilo para saber que qualquer romance, por mais desinteressante que seja, começa com um ósculo. Nos lábios. Regra geral, é a primeira de várias zonas a ser estimulada no processo de cópula. Cópula essa, que, deduzo, se dê com alguém por quem nutramos, para além de outros sentimentos, atracção sexual. Culpemos então, entre outros, as belas das feromonas. Sentimos vontade de beijar nos lábios pessoas por quem estejamos atraídos sexualmente. Até aqui tudo perfeitamente normal. 
Seria, se uma pessoa não saísse de casa e não navegasse nas redes sociais e de x em x tempo (ainda são uma minoria, valha-nos isso) não lhe aparecessem fotos de adultos a beijar bébés e crianças. Onde? Na zona erógena de que acabámos de falar, pois claro. Fotos do Papá e da Mamã a partilhar saliva, seguidas de fotos dos Papás, Mamãs, Irmãos, Tios, Primos, e sabe-se lá mais quem, em modo ventosa com crianças, desde as que ainda não andam até às que já andam na escola.
Pobres seres indefesos e ingénuos. Não consigo ver este tipo de coisa, sem me ocorrer a palavra começada por “P”, é imediato, não consigo evitar, lamento, mas o que mais me perturba é que me é impossível não questionar se também acharão normal estimular zonas erógenas da criança, de uma forma geral (eu mencionei as náuseas). Podia focar-me na hedionda falta de higiene e perigos para a saúde da criança que tudo isto implica, mas deixo essa parte de lado, porque comparativamente, acho imensuravelmente menos chocante. 
Se calhar sou eu que já estou um bocado antiquada para o Mundo em que vivemos, mas só beijo na boca alguém que me atraia sexualmente. Por quem nutro sentimentos, cor-de-rosa e inocentes, desprovidos de qualquer cariz sexual, há toda uma face disponível, cada ser humano tem duas bochechas, cuja área é muito mais vasta do que a dos lábios. Portanto, acho que a falta de espaço facial, não será o motivo da escolha dos lábios dos pequenos…mas então, qual é? Querendo acreditar que quem o faz não tem segundas intenções com uma criança, muito menos com quem partilha DNA, queria perceber o porquê da estimulação de uma zona tão íntima, mas não consigo encontrar uma justificação válida, muito menos não aterradora.
O mais assustador, é assistir a isto, com crianças que já andam na escola primária! Se os pais as ensinam que é normal e aceitável beijá-los, beijar os irmãos, tios, primos, etc, na boca, como é que lhes vão explicar que está errado quando eles exibirem o mesmo comportamento com professores e colegas de turma? Ou como é que lhes vão explicar que a relação entre a Cersei e o Jaime Lannister afinal está super errada? De certeza que os pais os deixavam juntar lábios em pequeninos. Gostaram tanto que tiveram 3 filhos.
Já ouvi aquela justificação de “Ah, é só em pequeninos, não faz mal nenhum, eles não têm noção.” Pois, noção até podem não ter, coitadinhos, mas têm sensações e estímulos, garantidamente. Então mas se não tem mal em pequenos, qual é a lógica de passar a ter em adultos? Se é feito de forma inocente, qual é o problema da filha de 24 anos cumprimentar o pai de 57 com um beijo na boca? Ahhh, já sei, aí podem confundi-la com uma golddiger, já percebi, faz sentido. Se fosse um rapaz de 26 a cumprimentar a mãe de 60 com um beijo na boca iam dizer que era golddiger E gay. Pois é, vivemos num mundo preconceituoso.
Chamem-me ser demoníaco, demente, mal-intencionado e com pensamentos impuros, estejam à vontade, mas lembrem-se sempre: não sou eu que troco prazerosa e deliberadamente saliva com crianças. Tenho dito.