segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Double Standards & Co.


“What you do speaks so loudly that I cannot hear what you say.” - Ralph Waldo Emerson



Aportuguesando a coisa..falemos sobre indivíduos algo hipócritas, desprovidos de imparcialidade. Seres com dois pesos e duas medidas. Podia esmiuçar n exemplos, mas vou focar-me num que me enerva profundamente e que me toca especialmente.
 Quem tem cães de raça, certamente já foi alvo de um olhar de desaprovação ou de uma sobrancelha arqueada por parte dos defensores do "não compre, adopte". Por adoptar, entenda-se ir buscar um cão/gato abandonado, ao canil ou qualquer outra instituição do género. O crucial é NUNCA comprar um patudo; com tantos cães/gatos abandonados e a precisar de lar, comprar animais de raça é considerado crime, por estas pessoas. Antes de mais: acho uma total falta de integridade alguém vender animais; comprar, não é o desejável, mas, assumindo que a pessoa que compra o animal, o faz porque realmente gosta daquele animal e tem como objectivo dar-lhe uma vida extremamente feliz, comprar o animal, significa salvá-lo de outro possível dono, quiçá com sentimentos menos nobres, portanto, vejo-o como um acto positivo. Bem, o que está em causa não é propriamente o facto de as pessoas gastarem dinheiro na aquisição de animais, tendo tantos disponíveis e em condições menos boas, no canil mais próximo. O argumento que ouço mais vezes, o que lhes faz realmente comichão, é simplesmente o seguinte pensamento: "Achas que um cão de raça é melhor do que um rafeiro, é? São todos igualmente merecedores de afecto, são todos lindos, cheios de amor para dar, etc." Todos os argumentos andam à volta disto.
Ora, vejamos... Lindos, todos? Não, não são, lamento. Há cães e gatos muito pouco abençoados pela Natureza, tal e qual acontece com todos os outros seres. Igualmente merecedores de afecto? Certamente.  Cheios de amor para dar? Possivelmente, dependendo do que já passaram, há casos deveras complicados. Gostava que todos tivessem um lar, com uma família que os tratasse como um membro da mesma? Seria uma felicidade extrema, mas é uma utopia.
Então agora pergunto eu: por que raio é que estas criaturas que atacam fervorosamente os donos de cães de raça com estes argumentos, têm filhos biológicos ou não criticam quem os tem?! Há milhares, para não dizer milhões, de crianças, de todas as cores, etnias, nacionalidades e idades, com vidas miseráveis, abandonadas e maltratadas pelos pais biológicos ou órfãs, a viver em instituições, a sonhar com o dia em que alguém lhes estenda a mão. Com tanta criança nestas condições, a maioria das pessoas escolhe, deliberadamente, gerar crianças. Algumas até chegam a gastar milhares de euros em tratamentos de fertilidade, outras pagam a outras mulheres para carregarem o seu embrião. Serão estas pessoas seres tão abomináveis como os donos de cães de raça? Que gentalha, sinceramente. Com tanta criança abandonada, têm a ousadia de gerar uma nova? Porquê? Só porque querem que tenha os belos olhos do pai, ou a personalidade adorável da mãe? Pff. É o cúmulo do egoísmo. Sinceramente, onde já se viu, ao que este mundo chegou, gerar mais crianças com tantas disponíveis no mundo.

(Vou dar-vos alguns momentos para reflectirem sobre o assunto.)






Pronto, certamente que alguns de vós já estarão possessos e a pensar “Onde já se viu, comparar crianças a animais?”; “Uma coisa não tem nada a ver com outra.”
E eu respondo: o princípio é exactamente o mesmo. Da mesma forma que a maioria dos seres humanos, podendo escolher, gostaria de ter um filho biológico, quem tem cães, também tem as suas predilecções,  sejam relativas a personalidade ou estéticas, é tão simples quanto isso.

Outro aspecto que este tipo de pessoa adora criticar é o facto de se ter cães em apartamentos. Outro crime horrendo. Ora, uma pessoa que faz este tipo de comentário, ou nunca teve um cão na vida, ou então, a relação que mantinha ou mantém com os mesmos, é deplorável. Deixem que elucide os menos informados. Já tive cães em vivendas e em apartamentos. Faz diferença no dia a dia e comportamento do animal? Era muito mais feliz quando tinha todo um jardim por onde correr e escavar? Era o espelho da infelicidade no apartamento? Ora, a diferença entre um cão a viver numa vivenda e num apartamento é… …..zero. Porquê? Porque a prioridade de um cão não é o local onde vive mas sim, com quem vive. Quer nas vivendas, quer nos apartamentos, todos os cães que tive, estavam e estão, SEMPRE, onde nós estivérmos. Numa vivenda com um terreno enorme, e todas as portas abertas, com possibilidade de escolha entre estar dentro ou fora de casa, a escolha era sempre simples: onde o dono estivesse. E agora volto eu a questionar. Então e essa moda de criar filhos em apartamentos? Que crime. É horripilante. Coitadinhos dos miúdos, sem espaço nenhum para correrem. Até há famílias que nem sequer têm quartos individuais para as crianças, chegam ao ponto de ter de dividir quartos com os irmãos. Pobrezinhos. Devia ser proibido ter filhos a quem vive em apartamentos com menos de x m².

(Segunda pausa para reflexão.)






Pronto, a esta hora já alguém me está a chamar nomes menos nobres e a dizer: “Lá vem esta outra vez comparar bichos a pessoas. Então não vê que os miúdos saem de casa, passeiam?”
Esperemos que seja esse o caso. Da mesma forma que esperamos que quem tem cães também os leve a passear e a conhecer outros ambientes. Já agora, sempre supervisionados, e com trela, de preferência. Já não se aguenta o rol diário de notícias sobre cães desaparecidos e/ou atropelados. É curioso, é que sempre que há cães desaparecidos, estavam sem supervisão, em locais de risco ou de fácil acesso a terceiros. Sozinhos no jardim, a maioria. É estranho, parece haver sempre um conjunto de factores comuns nestes casos. Já os que são atropelados, nunca são atropelados com trela. É uma coisa curiosa isso. Diz que isso tem um nome..como é que era…isto com a idade, a memória começa a falhar…tem a ver com desleixo, preguiça, ausência de reflexão necessária…ah, já sei!! Negligência. Pura.

Só mais uma coisa…caros seres que dizem de boca cheia que os vossos cães são família para vocês, mas que não estão dispostos a gastar nem um cêntimo com eles, quer em saúde ou alimentação, que não lhes dão a atenção e educação necessárias, que os deixam a dormir ao relento e sem qualquer conforto, a viver no quintal, desprotegidos, acorrentados, que mudam de casa e não os levam convosco, ganhem alguma vergonha na cara, e pelo menos fiquem calados, porque é deveras ofensivo, para todos nós, que realmente os tratamos e amamos como membros da família. Agradecida.