“What is right is often forgotten by
what is convenient.”―Bodie Thoene
Sempre ouvi dizer que o carácter de um homem é
revelado na derrota. O carácter, ou…a falta dele. Nunca me interessei muito por
política, nem tenho vasto conhecimento sobre o tema, mas como o tópico deste
post não é a política em si, mas sim o vulgar “chico espertísmo”, não há
qualquer contrariedade.
Ora então, comecemos pelo início. Democracia. Diz a
definição que “Democracia ("governo do povo") é um regime político em que todos os cidadãos elegíveis participam
igualmente — directamente ou através de representantes eleitos — na proposta,
no desenvolvimento e na criação de leis, exercendo o poder da governação através do sufrágio universal. Processo de escolha
através do qual os indivíduos seleccionados terão o direito ao voto; processo
de selecção feito através de uma votação; eleição.” Ok. Então exclareçamos o belo
do sufrágio universal. Definição: “Consiste na extensão do sufrágio, ou o direito de voto, a todos os indivíduos
considerados intelectualmente maduros.”
Humm…ok, vejamos então….democracia consiste em
ouvir a palavra ao povo, deixar que o povo escolha quem quer que governe o
País, através de votos. Votam e quem ganhar, governa. Faz sentido. Passámos uma
eternidade a gramar com os líderes dos partidos em tudo o que era media, cada
um prometeu mundos e fundos, as balelas de sempre, nenhum é merecedor do cargo,
na verdade, mas há que escolher algum, portanto, escolhamos o menos mau. Bom,
rumo às urnas então. Lá fomos.
Contados os votos, diz o resultado, que o
partido mais votado, eleito pelo povo foi o PPD/PSD.CDS-PP, com 36,86 %,
seguido pelo PS com 32,31%, em terceiro o BE com 10,19% e em quarto, o PCP-PEV
com 8,25%. Pronto, democracia em acção, não há qualquer dúvida, coligação
Portugal à frente, literalmente à frente, formem governo. Gostemos ou não, o
povo escolheu.
(Alguns dias depois…)
Ah, mas não, esperem, esperem. Pára tudo. Não é
assim. Surgiu uma ideia! Conseguimos descobrir uma lacuna! Diz o pessoal de
esquerda, que a matemática afinal não estava bem feita. Ora vejamos… se o
PSD-CDS, o pessoal da direita, teve 36,86%...então…o pessoal de esquerda teve
mais. E não é que somando 32,31+10,19+8,25= 50,75%? Olha, pois dá. Bem, esta
coisa da democracia afinal já me está a confundir….querem ver que a eleição era
entre direita e esquerda e ninguém me avisou? Eh pá, mas eu ia jurar que no
boletim estavam partidos. Será que vi mal? Ah, esperem, ouvi agora falar em
coligação. Diz que há uma coligação entre a malta de esquerda, os três principais
formaram um só partido. Bem, mas será que estou com indícios de Alzheimer?
Primeiro o boletim…e agora, não me lembro nada de ouvir falar em coligação
deste três, na altura da campanha, nem no dia das eleições…homessa!
Estava eu a caminho do hospital mais próximo,
quando finalmente me elucidaram. É a bela da Constituição Portuguesa. E não é
que é legal?! Caso a dor de cotovelo dos partidos perdedores seja insuportável,
é legal e perfeitamente possível que se juntem de modo a derrubar o partido
vencedor?! E esta, hein? E mais, é
ainda aceitável gritar a plenos pulmões que conseguiram pôr a Democracia em
acção, que venceram e que derrotaram o partido com maioria.
Pronto, confundiram-me novamente…então o povo é
que escolhe…36% do povo vota no PSD-CDS..mas partidos que tiveram números
insignificantes como o BE e o PCP, com apenas 10,19% e 8.25% de pessoas a
querê-los no governo, correspondentemente, é que ganharam? Humm? Está a
escapar-me qualquer coisa. Se temos o partido A, B, C e D e votamos…o que leva
alguém a crer que quem votou no B, quer o C? Ou que quem votou D, concorda com
os ideias de B? Votar em A, B, C ou D, não é igual a votar em A ou B+C+D. Será
que faltei a alguma aula importante de matemática?
Espero nunca padecer dessa maldita doença, dor
de cotovelo. Pelo menos que não
seja contagiosa. Deve ser mesmo uma dor horrenda, insuportável e os efeitos
colaterais são trágicos: completa falta de dignidade e carácter. Será que há
tratamento? Diz que às vezes, o melhor castigo é mesmo conseguir-se o que se
quer. Pode ser que se curem, se assim for.
Com isto tudo, agora fiquei com uma dúvida..o
próximo prémio do euromilhões está nos 129.000.000 euros. Como o País está, não
sei se jogue ou não..Se nas eleições
há um partido vencedor mas os que perderam acham que eles é que têm direito a
governar porque a matemática diz, que se juntarem os que perderam, esse número
de pessoas é superior ao número de votantes no partido vencedor...quer
dizer que se jogar e me sair o
euromilhões, só a mim..retiram-me o dinheiro e distribuem pelos milhões de
perdedores? Se calhar não vale a
pena estourar os 2 euros no boletim, para além de não ficar com o prémio
ainda perco dinheiro.
É legal o que se está a passar? É. A pergunta é: é
correcto? É de pessoas sérias, dignas, com carácter? Não, mas diz que é de
esquerda.