domingo, 31 de maio de 2009

Tempus fugit

"The clock is running. Make the most of today. Time waits for no man. Yesterday is history. Tomorrow is a mystery. Today is a gift. That's why it is called the present."
Já alguma vez ouviram alguém, ao experimentar umas calças ou uma blusa que adoram mas que lhes fica tão apertada que é necessária uma agilidade digna de um ginasta olímpico para conseguir apertar o último botão, proferir a seguinte frase: “Está um bocadinho apertado mas é uma peça tão bonita que eu vou levar na mesma. Para além disso, vou emagrecer, daqui a uns meses já me serve.”?
Acho que é extremamente positivo ter objectivos tanto a curto como a longo prazo, sem esperança o que seria de nós não é? O problema não é esse, o problema é a convicção de que o amanhã chega sempre e que certas coisas só acontecem aos outros. A segurança que a maioria das pessoas partilha.
Certo dia estava eu a ver um filme extremamente sangrento e com inúmeras torturas sádicas à mistura quando chega uma pessoa amiga e me diz: “Não sei como consegues ver essas coisas, isso é fantasia, não acontece na vida real.” O filme era o Hostel 2. Para quem não viu o filme, de uma forma muito resumida, trata-se de um grupo de amigas que sendo turistas se tornam um alvo fácil para as experiências de um grupo de indivíduos com gostos macabros. Não acontece?!
Será que a muralha da China não existe? De vez em quando aparece na televisão e ouço falar dela mas nunca a vi ao vivo, começo a duvidar. É preciso ser parte integrante de algo para se poder acreditar? Sentir na pele?
A maioria das pessoas acha extremamente hilariante que eu, sendo rapariga de perto de ¼ de século não conduza às tantas da madrugada e não ande sozinha por todo o lado após o lusco fusco. Os nomes variam mas geralmente resumem-se a medricas. Acho curioso. Segundo o meu particularíssimo ponto de vista denomina-se consciência, ter noção da realidade. Voltamos à visão de conto de fadas que as pessoas têm do mundo em que vivem, especialmente de que são intocáveis. Será que já vi filmes a mais? Noticiários a mais? Documentários a mais? Li jornais a mais? Não me parece.
Lembro-me do jogo da roleta russa. Um tambor para 6 balas..se puser apenas uma bala tenho boas probabilidades de ao premir o gatilho continuar viva. Isto para mim é o dia-a-dia, há sempre uma bala na câmara, 24 horas por dia. Obviamente, quanto mais balas puser na câmara maior a chance de ir desta para melhor. Tal como, consoante os locais a que se for e consoante os horários e companhia que se tiver, aumenta ou diminui a probabilidade de algo menos bom acontecer. Ok, agora vocês dizem: “Pode haver um tremor de terra e cai-me o tecto em cima, morro na minha cama ou engasgo-me com um caroço de cereja e bato as botas." Perfeitamente. Daí a tal bala que está sempre presente no tambor da vida. É como ir acender uma fogueira e tomar banho em gasolina antes, deixar os filhos com um pedófilo. Pode acontecer e pode não acontecer. Jogar pelo menos arriscado é ser cobarde? Eu chamo-lhe prudência, sensatez. Acontece sempre aos outros..até nos acontecer a nós. De qualquer modo faço votos para que a noção de fantasia se mantenha (exclusivo para todos os que me são queridos e/ou merecedores).
Outra coisa curiosa na maioria dos seres humanos: só dão valor às coisas quando as perdem, só dão valor ao tempo quando percebem que é limitado. Desde pequenos que nos dizem: “Um dia quando fores velhinho”. Quem disse que chego lá? Obviamente todos esperamos atingir essa fase mas não é uma garantia. Temos sempre a noção de que a família, amigos, cara-metade vão estar sempre presentes e portanto a maioria das pessoas age como se todas essas pessoas bem como o tempo que ela própria tem de vida fosse um dado adquirido, uma garantia. O trabalho é sempre prioritário, a conta bancária, o prestígio, sendo a maior parte do seu tempo dedicado a essa parte. Um dia alguém me disse que amor não paga dívidas. Realmente não paga, correctíssimo. Se já temos o amor, não precisamos de nos preocupar com essa parte, preocupamo-nos com as dívidas, fazemos por não ter dívidas, quando estivermos financeiramente bem (o que raras vezes acontece) depois teremos tempo para o resto. Voltamos à visão futurista. Imaginemos que conseguimos o tal almejado sucesso. Poderá uma conta de milhões salvar alguém com uma doença terminal? Comprar mais tempo? Será preciso alguém um dia fazer um exame médico e descobrir que tem uma doença terminal, apenas alguns meses de vida para as prioridades serem as correctas? Para se ver para além do sucesso, prestígio e contas bancárias? Longe de mim dizer que uma conta bancária choruda é pouco importante e que não devemos fazer por isso (sou consumista por Natureza), apenas acho que não vem em número 1 na lista da vida.
Talvez para a maior parte das pessoas seja necessário perder alguém que se ame, deparar-se com uma doença grave na família, ter um acidente grave, ser raptado, ver a vida por um fio. O exemplo alheio nunca é suficiente, é sempre preciso passar pelas coisas infelizmente e mesmo assim a maioria não muda.
Acho que nunca é tarde para se reorganizar prioridades e dar valor ao que realmente importa e para se ter noção de que a única coisa certa na vida para além da morte é a mudança. Hoje pode ser o nosso último dia, amanhã um dos nosso pais pode falecer, aquele pessoa de que tanto gostamos pode morrer daqui a 1 ano, daqui a 1 semana podemos fazer um simples exame médico e descobrir que temos 6 meses de vida. Mudavam alguma coisa na vossa vida? Alteravam prioridades? Viviam de outra maneira? Seja qual for a resposta, está sempre dependente de factos e suposições nunca alteram nada, só se tem noção quando a catástrofe acontece, e aí, geralmente é tarde demais, mas é assim o ser humano.
No entanto, nada é tão esperado como o inesperado e de um dia para o outro tudo muda.
“Live as if you were to die tomorrow. Learn as if you were to live forever.” , já dizia Mahatma Gandhi

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Laços

Conhecem aquele provérbio que diz que o sangue fala mais alto? Tenho alguma dificuldade em perceber (mais uma adição à infinita lista). Desde cedo que ouço dizer isto e apesar de entender até certo ponto, não acho absolutamente correcto e reformularia para “Os sentimentos falam mais alto”. Acho que o que conta não é a partilha de genes mas sim o sentimento, o laço existente entre pessoas. Família todos têm ou tiveram e não se escolhe. É uma questão de sorte. Como seres humanos, com personalidades distintas, obviamente não nos conseguimos dar com todos os representantes da espécie e não me parece que o sangue ajude alguma coisa neste ponto.
Não sei se a ideia de que se tem que gostar de todos os familiares provém do facto de geralmente serem pessoas com quem lidamos desde o berço (na maioria das vezes). Talvez venha daí. E neste ponto provavelmente já pareço alguém anti-família, o que não é de todo, o caso. Apenas não entendo porquê que sangue e afeição têm de estar directamente relacionados. Quem não ouviu crianças dizerem: “Não gosto da tia X, não suporto o primo Y e por favor não me obriguem a ir visitar o bisavô K?” e receberem respostas do género: “Tens que gostar, é tua tia” ou “ tens de ir, é família”. Estava na fase da infância mas passemos à adolescência e às discussões entre pais e filhos porque os rebentos preferem ir sair com os amigos ou estar com as caras-metade da altura do que ir jantar à casa da tia-avó ou aos anos do primo que é a criatura mais insuportável do mundo? A frase chave é sempre a mesma, “Tem de ser, é família”. Cenas recorrentes.
Não acho que as pessoas tenham que ser almas gémeas para nos darmos com elas e que se não convivermos isso signifique que gostemos pouco delas, nada disso. Acho que se pode gostar muito de seres humanos completamente diferentes de nós e podemos mesmo estar lá para eles quando necessário, apenas não conseguirmos conviver com eles regularmente por choques extremos de personalidade. Mas sejamos francos, noutros casos não gostamos mesmo das pessoas, por mais genes que tenhamos em comum, não há nada a fazer. Devo ainda acrescentar que muitas vezes estas insistências nas idas a habitações de parentes tem a ver com exibição da prole, coisa que a maioria (se não todos) dos progenitores adora (mesmo que não haja nada digno de exibição).
"Don't pity the girl with one true friend. Envy her. Pity the girl with just a thousand acquaintances."- Katie Obenchain
Sangues à parte, o que são amigos? Sinceramente não me interessa minimamente o teste de DNA mas sim os laços criados. Um primo, tio, avô, irmão, Pai, até mesmo Mãe, são amigos porque existem genes comuns? Num mundo ideal os progenitores são os melhores amigos e quem mais ama o seu rebento mas não me parece que estejamos no planeta correcto. Quantos pais abandonam e maltratam os filhos? Têm genes mudos? Será? Não me parece.
Porquê que um parente tem prioridade em relação a um amigo apenas porque tem algum sobrenome em comum? Porque nos conhece desde que nascemos? Viu-nos de fralda? Costuma-se dizer que amigos, namorados, maridos, vão e vêm, mas a família fica. Até aí concordo, não se pode alterar esses graus de parentesco e talvez na maioria dos casos funcione mesmo assim, espero que sim, apenas não acho que se possa ser radical a esse ponto.
Independentemente do tempo de vida que se tenha, toda a gente tem momentos bons e maus na vida. Para mim, o verdadeiro amigo é quem está presente em ambos. É a pessoa que pergunta se estamos bem e que curiosamente espera pela resposta e que não se contenta apenas com a resposta mas também com a expressão e tom que a mesma alberga. É a pessoa que provavelmente preferia estar noutro lugar quando precisamos dela mas não está, está ali. É a pessoa, que aconteça o que acontecer sabemos que vai estar lá, independentemente de estarmos certos ou errados. É a pessoa que nos conhece melhor que ninguém mas mesmo assim gosta de nós e nos aceita tal como somos. É a pessoa que esteve sempre lá e que sabemos que vai estar sempre. Isso para mim, é família, com ou sem genes em comum.
Pode ser a nossa mãe, pode ser um amigo de infância, pode ser uma cara metade, pode ser o irmão, o vizinho, seja quem for. Podemos gostar muito de alguém que é a antítese da nossa personalidade, podemos detestar alguém que é o nosso reflexo, podemos criar uma empatia inexplicável com alguém que conhecemos há 5 minutos bem como podemos passar 10 anos a conviver com alguém e continuar a ser uma tortura. Não se explica, sente-se.
É uma questão de sentimento e não de genética. Mas isto, digo eu.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Artes de Pesca

Pesca..captura de organismos aquáticos para diversos fins, como por exemplo alimentação ou recreação.
Existem várias artes de pesca, sendo a sua selectividade variada. A selectividade da arte não depende apenas do que se quer pescar mas também do esforço e tempo que se pretende dispender na captura.
Temos a pesca de arrasto, tão comum...venha o que vier, sem diferenciação. Se entrar no limite é capturada, sem olhar a consequências. Efeitos da pesca de arrasto podem se detectados por satélite, tal a sua intensidade, e os danos duradouros, muitas vezes irrecuperáveis. O que interessa é capturar, danos colaterais há sempre não é? Também não será o pescador a preocupar-se com isso, o problema é do ecossistema, este que recupere.
Passemos à pesca com anzol, como a pesca com palangre por exemplo. Este tipo de pesca é extremamente selectiva, uma vez que consoante o tamanho e formato do anzol utilizado bem como o tipo de isco, a pesca é direccionada para uma espécie específica. Requer bastante mais tempo e um conhecimento profundo da espécie que se quer capturar, é necessário determinar previamente a espécie-alvo. Uma arte utilizada por poucos hoje em dia.
Há quem defenda o isco e há quem defenda o anzol. Qual deles tem maior importância? Segundo as minhas convicções o essencial é o anzol mas anzol sem isco é apenas um anzol, com baixa probabilidade de despertar o interesse do peixe por si só. Ou seja, se queremos que o peixe se aproxime do anzol é essencial um isco, algo que o atraia até ao anzol. Após atraído pelo engodo, entra então o anzol em acção e aí, apenas a qualidade do anzol é relevante. Um anzol de qualidade conseguirá reter o peixe, enquanto um anzol mais comum, menos detalhado provavelmente reterá o peixe apenas por algum tempo. É necessário o isco indicado à espécie a capturar, mas sem um anzol de qualidade, o peixe não ficará retido.
O isco pouco dura, o anzol, esse, permanece.

domingo, 3 de maio de 2009

Álcool

Mês de Maio, semanas académicas. Agrupamento de estudantes, Álcool.
Continuando com a minha teoria de que a população mundial pode ser dividida em pessoas do tipo X e Y, aqui fica mais um post sobre um dos mistérios X que hei-de falecer sem compreender na sua totalidade.
Tenho quase ¼ de século de existência e as minhas experiências com álcool resumem-se a um molhar de lábios com vinho do porto. Acreditem ou não, é a mais pura verdade. Ainda hoje muito boa gente perde apostas graças a esta minha qualidade (segundo o meu ponto de vista), atraso (segundo a maioria dos pontos de vista). A maior parte das pessoas acha hilariante e que sou a comédia personificada. Este “comportamento de desvio” é partilhado pelo meu irmão, mais velho do que eu. Daí, a maioria das pessoas pensa: “Ah, isso são os pais.”
Tem a sua piada, uma vez que o que está implícito neste tipo de comentário é que os pais provavelmente proibiram as pobres almas de tocar em determinadas substâncias, ou são alcoólicos e os pobres rebentos ficaram traumatizados com os exemplos paternos ou de alguém na família. Lamento informar os inúmeros elaboradores da teorias mas nenhuma se aproxima da verdade. Ambos os progenitores dos “desviados” apreciam um bom copo de vinho à refeição em determinadas ocasiões. Peço especial atenção para o pormenor do “um”. Nunca ocorreu a mínima tentativa de afastar a descendência do “diabo líquido”, tendo surgido a proposta em inúmeras ocasiões.
Assim, é uma opção pessoal. Não vou igualar álcool a droga mas o nível de atracção que provoca em mim é exactamente o mesmo. Chamem-me comichosa mas o cheiro por si só repele-me. Recorda-me aqueles xaropes que por vezes se tem de tomar mas em que se cobre as fossas nasais devido ao odor.
No entanto, apesar de não ser adepta eu consigo perceber que alguém tome um copo ou outro em determinadas ocasiões. Se me disserem que tiram algum prazer disso, que o sabor é fenomenal, que uma cerveja gelada no Verão sabe super bem, ok, não digo nada, até aí o meu cérebro limitado consegue alcançar. O busílis da questão não é o álcool em si, mas sim a quantidade ingerida. Volto a frisar, a quantidade ingerida.
O que é que leva uma pessoa sã a marcar “bubas”?! “Então, hoje vamos jantar fora? Um cinema? Vamos ver um jogo? Vamos andar de barco? Está um dia magnífico”, ok...agora, “Vamos apanhar uma buba hoje à noite?” O meu cérebro entra em bloqueio..mas pelas reacções dos participantes nestes sábios diálogos isto equivaleria a alguém dizer-me: “Pá, olha, ganhei o euromilhões, vou dar-te uma parte.” A mim, particularmente, quando ouço a célebre frase, o meu cérebro problemático faz a seguinte tradução: “Vamos tornar-nos mentalmente atrasados e perder completamente a dignidade? Com sorte fazemos uma competição de regurgitamento e acabamos a noite ou no hospital ou com alguém desconhecido sem nos lembrármos de metade. Vai ser o máximo.”
Por favor, elucidem-me. Já ouvi “n” explicações e a maioria delas resume-se a “esquecer os problemas” e “tornar-me mais desinibido”.
Quanto à primeira, não sei se sou só eu que reparo mas os problemas permanecem após o efeito do álcool, álcool não afoga mágoas e na maior parte das vezes o indivíduo acaba com ainda mais problemas na fase pós-alcool do que começou. Curiosidades. A explicação da desinibição...falta de personalidade será mais preciso. Necessitar de “extras” para ser a pessoa que se queria ser, para adquirir coragem para fazer coisas que de outro modo não se conseguiria fazer para mim é apenas falta de personalidade e uma farsa. Mas mais uma vez, é apenas a minha humilde opinião, sou apenas uma pessoa “desviada”.
Não tenho nem nunca tive espírito de manada e não tenho a mínima dificuldade em utilizar a palavra “não”. No entanto, acho que é aí que reside a resposta às perguntas que fiz anteriormente. Quem não bebe é o dito “betinho”, “mariquinhas” e, supostamente, excluído socialmente. Quem não segue a manada geralmente fica sozinho, não é aceite e como se costuma dizer, se não os consegues vencer junta-te a eles.
Honestamente, acho que se as pessoas fossem filmadas no seu estado alcoolizado e essa gravação lhes fosse mostrada no seu estado sóbrio duvido muito que voltassem sequer a tocar em álcool. Também é algo a que ninguém vai aderir, havendo também a dificuldade de encontrar um cameraman sóbrio, claro.
Apesar de nunca ter bebido, tenho uma vasta experiência em pessoas alcoolizadas, amigos e desconhecidos, o que ainda reforça mais a minha opinião sobre o álcool. Tenho que admitir que numa fase inicial algumas pessoas até me divertem um pouco e se tornam bastante mais interessantes do que no seu estado normal mas dum modo geral, as cenas são deploráveis. Já vi de tudo.
Outro ponto que me ultrapassa. Ainda há poucos meses tive um intoxicação alimentar grave, podia ter formado um novo oceano de conteúdos estomacais e digo-vos, nunca me senti tão mal fisicamente. Só a possibilidade de poder regurgitar deixa-me aterrada, o que ainda aumenta o mistério que envolve o excesso de álcool, para mim. Como é que além de perder completamente a dignidade, alguém pode induzir um processo que vai culminar em dores de cabeça e má disposição? Transcende-me de sobremaneira.
Acho fantástico o orgulho que demonstram após esses eventos, pelos vistos quanto mais se conseguir ingerir mais estatuto se tem. Conheço pessoas com graves problemas de fígado nos seus 20 e poucos. Mas o que é um fígado comparado com um estatuto social mundialmente reconhecido nas comunidades académicas e as inúmeras histórias de que se poderão gabar? Quem não quer ser detentor do título de maior ingestão de cerveja, de maior número de bubas? Existe orgulho maior? Nada é mais importante que ser aceite não é? A dignidade que vá para as urtigas, quem precisa disso? Venha a hepatite alcoólica e a cirrose, a gastrite, pancreatite e a hipertensão, só não se perca a inserção social! Cheers!!

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Interrupção Voluntária(?) da Gravidez

Citando novamente a minha prezada mãe (a quem desde já agradeço ter permitido o meu nascimento): “A minha liberdade termina quando a do outro começa.”
Há uns tempos a interrupção voluntária da gravidez, o aborto, era o tema do momento. Nunca percebi o que havia para discutir e deixei de assistir a todos os debates uma vez que a poluição sonora e visual era de um nível absolutamente insuportável. Nada como um bom debate para evidenciar a já inúmeras vezes referida estupidez humana.
De entre o infinito rol de barbaridades a que os meus adorados canais auditivos estiveram sujeitos durante essa fase infernal, houve uma frase constantemente proferida pelos defensores do "sim" que se destacou e ficou gravada no meu cérebro (tenho o péssimo hábito de não limpar o spam cerebral): “A mulher tem o direito de fazer o que quer com o seu corpo, o corpo é dela, ela é que decide.” (Citando milhões de organismos com deficiências neuronais.)
Vou deixar um parágrafo em branco em “homenagem” a esta pérola de sabedoria.



Continuando. Óvulo fecundado, gravidez. Ponto assente. Não sei a partir de que ponto de uma gravidez é que as mulheres se sentem mães mas apesar de nunca ter engravidado acho que qualquer pessoa com o mínimo de instinto maternal se sentiria dessa forma a partir do momento em que se confirma o seu estado de graça (ou não, dependendo do ponto de vista). Chamem-me sensível, quiçá.
Segundo a lei portuguesa, a interrupção da gravidez por opção da mulher pode ser efectuada nas primeiras 10 semanas de gestação. Não sei se já tiveram curiosidade em ver imagens de um feto com 10 semanas. Dados os meus níveis de curiosidade, averiguei rapidamente. Não é uma criancinha adorável, rosadinha, com uns tufinhos de cabelo, uns olhinhos brilhantes e um sorriso irresistível, não, mas já se vê perfeitamente o formato do corpo, incluindo todos os dedinhos. Pelos vistos a aparência é sempre o factor determinante, afinal começa mesmo no útero. Não tem o aspecto apetecível ainda, não faz caretas nem se notam os traços do pai, não toca o coração, é dispensável. Como é coerente o ser humano.
Tanto quanto sei ainda não há um consenso em relação à existência ou ausência de sensações fetais durante o processo de abortamento. Há quem diga que o feto é capaz de sentir dor a partir da sétima semana e quem defenda que os requisitos neuro-anatómicos necessários para que se sinta dor só se formam a partir do segundo ou terceiro trimestre.
Mas dores à parte, mesmo que o feto não sinta dor alguma: será que é assim tão difícil alguém perceber que um feto é OUTRO ser?!!?! Que não é um órgão do corpo da mulher mas sim OUTRO ser humano a residir temporáriamente no mesmo?!?! É uma noção assim tão difícil de encaixar?? Seguindo esta lógica digna de um nobel..sendo assim qualquer pai ou mãe tem o direito de violar os seus filhos, espancá-los e até mesmo matá-los enquanto estes viverem na sua casa, não? A casa é deles, a prole só habita no mesmo espaço, façam deles o que quiserem. É a mesmíssima lógica nobeliana.
Nos tempos que correm acho que a probabilidade (para uma pessoa minimamente inteligente e informada, logicamente) de uma gravidez não planeada é equivalente à de acertar a chave no euromilhões. Cada acção tem uma consequência e acho que temos de ser responsáveis por elas, sejam elas quais forem. Assim, se geramos uma criança somos responsáveis por ela, agora, não me parece que uma criança tenha culpa da falta de neurónios dos seus progenitores. Eu percebo que à partida a probabilidade da mesma de se tornar um ser extremamente dotado de inteligência seja reduzida devido à herança genética mas se formos exterminar todas as pessoas menos favorecidas intelectualmente do mundo a população mundial caberia confortavelmente num país do tamanho de Portugal.
Outra coisa caricata. Apenas a própria mulher pode fazer o pedido de interrupção da gravidez, a não ser que seja psiquicamente incapaz. Mais alguém nota a redundância?
Agora pergunto: se para se formar o embrião é fundamental a presença um óvulo e um espermatozóide...por que carga de água é que só o óvulo é que tem voto no extermínio?! Divórcios de milhões, divisão de bens, etc. Embrião, é de quem tiver óvulos. Um casal compra uma casa em conjunto, um carro....separam-se, fazem-se as contas, metade para cada um (em princípio), pelo menos há sempre divisões. Agora, gravidez, a mulher é que decide, o homem mesmo que queira ficar com a descendência não adianta nada, a mulher é que decide. Tem voto no carro, mas no assassinato do rebento não. Fantástico.
Acho fascinante como a eutanásia é proibida mas o aborto é permitido. Uma pessoa autónoma com capacidade mental não pode pôr fim à sua vida em caso de sofrimento irreparável, é obrigada a passar o resto da sua vida (que espera que seja curta) em agonia mas uma pessoa dependente que não pode objectar nem dar o seu parecer (e que provavelmente espera que a sua vida seja longa), pode ser condenada à morte por um outro ser, que detém poder total. Ultrapassa-me.
Vou ser sincera, o que não falta por aí são pessoas cujas mães deveriam ter optado pelo aborto, é uma pena que não o tenham feito. Eu seria a primeira pessoa a favor do aborto caso fosse possível adivinhar o futuro e ver no que se transformaria o feto. O problema é que tanto quanto sei, as bolas de cristal são só bolas de cristal e sendo assim, ao serem gerados, todos têm o benefício da dúvida e o direito à vida.
Li no outro dia um artigo sobre a quantidade de mulheres que perdem a vida nos abortos induzidos, perto de uma centena de milhar por ano. Dizia ainda que a probabilidade de desenvolvimento de cancro de mama aumenta com esta prática e pouco mais. Continuei a procurar o resto do artigo, a parte referente ao número de crianças que são assassinadas anualmente ainda no ventre, pelas próprias mães, por todo o mundo mas curiosamente não encontrei, provavelmente foi algum problema de edição.
Interrupção voluntária da gravidez..ou será interrupção involuntária da gravidez, já que "o interrompido" não teve voto na matéria?
Talvez seja a minha noção de maternidade que seja um pouco diferente, talvez seja mesmo uma pessoa muito antiquada como os adeptos do "sim" costumam orgulhosamente dizer mas se ser antiquado é achar horripilante que a pessoa que nos gera e que deveria ser o nosso porto seguro, o maior vínculo afectivo que se pode ter e a pessoa que mais amor por nós deveria nutrir, ser essa mesma pessoa a optar por nos enviar cano abaixo como um simples apêndice incómodo, então meus caros, tenho todo o gosto em afirmar que sou antiquadíssima e com muito orgulho.

sábado, 21 de março de 2009

Óbitos

Eis a única certeza, a única garantia que temos na vida: a morte.
Numa vida incerta, em que tudo é temporário e se encontra em permanente mudança, temos de nos alegrar com o facto de que pelo menos uma coisa é garantida, todos temos direito a ela: a morte. Mais cedo ou mais tarde todos os organismos falecem. Este post não tem como objectivo divagar sobre nascer para morrer, esse é um assunto semelhante ao universo e à estupidez humana, infindável, o objectivo é apenas salientar alguns pontos que me chamam a atenção.
Há algumas opiniões relativamente ao cessamento definitivo dos pulmões que me provocam alguma agitação neuronal. Não sou de todo contra a morte, não acho que morrer seja uma coisa má, acho que mau é sofrer, isso sim. Assim, acho que quem provoca sofrimento alheio deve receber a sua cota-parte do mesmo, ao mesmo nível. Acho fantástica a forma como a morte funciona como embelezador de qualidades, é alucinante como as pessoas conseguem ter opiniões tão diferentes da mesmíssima pessoa consoante a existência ou ausência de batimentos cardíacos. Para um indivíduo sem carácter, cujo rol de defeitos e más acções seja infinito, após passar para o dito “outro lado”, não digo que passa a santo mas de súbito o seu cadastro passa a limpo e de repente toda a gente se lembra das suas qualidades, antes invisíveis. Talvez a consciência comece a pesar e as pessoas pensem que talvez o indivíduo tenha partido desta para melhor devido aos seus agouros, pelas dezenas de vezes que desejaram mentalmente que aquele indivíduo desaparecesse, cujo mundo lhes parecia incrivelmente mais apelativo sem a sua presença. Como existe a teoria de que o que vai volta, quem cospe para o ar cai-lhe em cima, talvez estes pensamentos ditos impróprios os levem a mudar o discurso e tentar pedir perdão desta forma, pode ser que adie o reencontro com o defunto. Se não o fizer, certamente acalmará as consciências. Não vou voltar a falar em hipocrisia, prometo.
Outra teoria que acho interessante...suicídio é crime mas nascer é um milagre. Nos tempos que correm começo a achar um crime o nascimento mas são opiniões. De qualquer modo, alguém pediu para nascer?! Ok, uma pessoa não tem essa opção, é impossível ter, mas partimos do princípio que ninguém escolheu nascer, ou não? Tal como até determinada altura, são os nossos pais que tomam todas as decisões por nós, se eles decidem que querem a nossa presença neste mundo não podemos protestar. Agora, imaginemos que quando finalmente temos poder de decisão dizemos que preferíamos não ter nascido e que não queremos continuar neste mundo. Provavelmente somos considerados loucos mas imaginemos que mesmo assim levamos a nossa decisão adiante e tentamos implementar o que temos em mente. Ora, se correr mal e por alguma razão formos suficientemente estúpidos ou azarados para não conseguir levar a cabo a missão estamos em sarilhos e provavelmente passaremos a ter ainda mais vontade de voltar a tentar uma vez que o sol aos quadradinhos (eu diria às barrinhas) não deve ser das melhores formas de dissuadir um suicida. Já nem sobre a nossa própria vida podemos opinar. Na minha humilde opinião acho que quem não aguenta o mau não estará cá para saborear a chegada do bom mas acho que as pessoas devem ter direito a escolher.
Imaginemos agora que fomos bem sucedidos. Entramos nas ambiguidades. Quem se suicida poderá ser considerado extremamente corajoso por ter conseguido levar a sua avante ou então um cobarde. Temos ainda a versão do egoísmo, a questão é quem é o egoísta. Ora, uma pessoa que se suicida é considerada egoísta porque só pensa no seu bem e não dos familiares, amigos e qualquer outro ser que vá sofrer com a sua ausência. No entanto, ninguém considera egoísta o facto dos restantes seres com sistema circulatório activo não permitirem à pessoa em causa dar um fim ao seu sofrimento para que estes não sofram com a sua ausência. Quem é mais egoísta neste caso? Quem exige que outros sofram de modo a que não lhes seja provocado nenhum sofrimento ou quem prefere pôr fim ao seu sofrimento em vez de continuar a sofrer de modo a não arruinar o quadro de felicidade alheia? Permanece a questão.
Quando as pessoas morrem, os comentários, na sua maioria são: coitado, tão novo, ainda não era altura, o melhor estava para vir, não merecia, ninguém merece, etc. Já ouvi inúmeras vezes a frase: “Não se deseja a morte a ninguém.” Agora pergunto, porquê? Voltamos à conversa da projecção de saliva e da força da gravidade? Superstição ficará para outro post. Na maioria das vezes nem conhecem as pessoas mas mesmo assim opinam e tomam-lhes as dores. Não sabem se são assassinos, violadores, pedófilos, se espancam mulheres e crianças, se torturam, não sabem nada ou sabem muito pouco. No entanto, morreu, coitado. Qualquer morto, seja ele quem for não merecia morrer. Certamente trariam-nos de volta à vida não? Pelos vistos o mundo seria muito melhor se por exemplo todos os criminosos com morada no além ressuscitassem certamente, convinha era que não batessem na sua porta, talvez. Eu disse que não ia falar na palavra começada por H.
Outro ponto interessante quando as pessoas morrem. Se alguém morrer, obrigatoriamente os familiares têm que se vestir de preto e chorar copiosamente. Se não estiverem vestidos de preto são hereges, não respeitam os mortos e se não alagarem o cemitério não gostavam da pessoa. Não vou generalizar, mas na maioria dos casos (99.9%) os funerais actuam como um evento social, em que o objectivo é ver quem foi (quem faltar passa a ter um estatuto inferior ao dos criminosos), com quem foi, como foi vestido e por aí adiante.
O último objectivo é prestar uma última homenagem ao falecido e fornecer algum consolo às pessoas que sofrem com a perda. Pelo menos por cá ainda não adoptaram a patética moda inglesa de fazer um festim nestas ocasiões mas não deve tardar. Faz todo o sentido a família em sofrimento passar o dia preocupada com o paladar dos convidados (sim, é com convite) e juntar uma multidão em sua casa, é o dia ideal para se melhorar as qualidades de anfitrião. Faz todo o sentido, o que mais pode uma pessoa em sofrimento querer? E é vê-los a comer perninhas de frango enquanto discutem o fato do morto, a qualidade do buffet e a fisionomia da prima afastada.
Continuando no cadáver.. pensemos no processo. Antes de mais, fica já aqui assente, em caso de falecimento prévio, sou 100% a favor da cremação, acho que é a única coisa que faz sentido. Não querendo ferir susceptibilidades, acho um desperdício descomunal de cifrões gastar balúrdios em caixões topo de gama e em coroas de flores.....até acho bonito que a pessoa seja cremada com algumas flores, um acto simbólico mas...a ideia de pegar num ente querido, metê-lo numa caixa, cavar um buraco e tapá-lo com terra num mar de ossadas não me parece absolutamente nada digno...não digo que a cremação seja um fenómeno bonito mas como o embalsamento também não me parece próprio acho que só resta essa solução. A ideia de um cadáver em decomposição é no mínimo horripilante. Não vou descrever mas se tiverem interesse informem-se sobre as fases de putrefacção....ficam com um boa ideia daquilo a que me refiro. A mim, não me parece minimamente digno servir de banquete a inúmeras larvas e bactérias, ser deixado a apodrecer debaixo de terra (para além do espaço que os cemitérios ocupam). Já ouviram falar naquelas histórias de pessoas que são dadas como mortas mas afinal não estavam e por alguma razão alguém um dia reabre o caixão e a tampa está cheia de marcas de unhas? Pois é, acontece. Mais um ponto para a cremação.
Quanto a mim, enquanto desejo que alguns falecimentos não ocorram tão cedo e não antecedam o meu, aguardo ansiosamente pelo prazer de ler alguns obituários.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Invólucros

Há uns dias resolvi fazer um bolo, uma receita nova. Esmerei-me, segui a receita à risca, incluíndo a cobertura.
Resumindo..foi provavelmente o bolo mais bonito que alguma vez fiz. A apresentação estava excelente, dava gosto olhar para o bolo e, modéstia à parte, a cobertura estava de comer e chorar por mais. Fiquei felicíssima. Por mais contraditório que possa parecer, adoro fazer bolos mas raramente os como. No entanto, faço sempre questão de provar as minhas confecções antes de as oferecer, obviamente. Assim, peguei orgulhosamente na faca e cortei uma fatia perfeita.
Ansiosa pelo sabor inebriante do chocolate, eis que um pedaço da belíssima fatia atinge as minhas papilas gustativas. A informação transmitida pelas mesmas ao meu cérebro pode ser classificada como..............horrendo. Ora aí está. Admito. Por baixo da melhor cobertura de todos os tempos (do meu, é claro) encontra-se o pior bolo de todos os tempos. Contraditório não é? Como é que uma cobertura tão fenomenal pode esconder um interior intragável?
Revi a receita mais uma vez, talvez me tivesse enganado..talvez me tivesse esquecido de algum ingrediente fundamental ou talvez tivesse colocado algum na proporção errada. Não, não foi o caso, segui mesmo a receita à risca. Fiquei feliz por o problema ser da receita e não das minhas capacidades culinárias.
Com a auto-estima culinária recuperada, os meus infinitos pensamentos levaram-me ao Natal...lembrei-me das árvores de Natal e dos presentes que esta acolhe. Acho que isto acontece a toda a gente, mas a mim acontece-me quase todos os anos. Há sempre um presente debaixo da árvore que é tido como o presente-alvo, ou seja, é aquele embrulho que nos atrai mais do que qualquer outro. Podemos ter 20 embrulhos na árvore mas só focamos a nossa atenção naquele. Poderá ser por ter o papel de embrulho da loja onde vendam o bem material que mais desejávamos nesse Natal, pode ser pela forma, que se assemelha incrivelmente ao formato do objecto tão desejado ou simplesmente porque é a prenda proveniente da pessoa que, por ser extremamente perspicaz e atenta a todas as nossas formas subtis de indicar o que queremos, sabe exactamente o que gostaríamos de receber.
Damos por nós constantemente a olhar para aquele embrulho, completamente hipnotizados...por vezes o fascínio é tanto que quando chega a tão aguardada meia-noite, deixamos esse embrulho para o fim, de modo a prolongar a expectativa e a que seja a cereja no topo do bolo. Por fim, quando já esgotámos todos os presentes, aproximamo-nos do nosso objecto desejado e removemos o embrulho com tamanha delicadeza que qualquer pessoa suporia tratar-se de porcelana. Removemos então o embrulho e eis que...a desilusão se abate sobre nós....sentimento tão recorrente nos tempos que correm. Por vezes ainda se tem aquela sensação de que foi uma piada e que dentro de um minuto alguém vai entrar pela porta da sala com o presente verdadeiro nas mãos...ocasionalmente aguardo, mas em vão. O presente nunca chega. E percebo que por mais tentativas subtis que faça de dar uma luz sobre o que gostaria de receber, por mais pistas que indique, não adianta. Talvez a percepção não seja uma qualidade assim tão comum. Ou talvez a minha subtileza seja demasiado subtil, quiçá.
Após tantos Natais já deveria ter aprendido, no entanto interrogo-me. Talvez tenha sido o papel de embrulho que me tenha enganado..talvez a sua cor fosse extremamente apelativa ou o seu laço estivesse impecavelmente bem feito. Quem sabe, não terá sido mesmo o formato do embrulho? Tão semelhante em forma ao que eu tanto almejava? Quem sabe.
Apercebo-me então do poder do invólucro. Será que se o bem que tanto desejava estivesse debaixo da árvore mas envolto em papel de jornal ou num simples caixote velho me teria chamado a atenção? Temos sempre a noção que se esperamos receber um diamante este terá de vir envolto numa bela caixa acetinada, cuidadosamente protegido por uma peça de seda. Umas meias (tão comuns no Natal como o perú), por sua vez, estarão inseridas num simples papel de embrulho de hiper-mercado. Como é supérflua a visão humana.
Voltemos então ao bolo...se falta o ingrediente chave, se a mistura dos mesmos não é a correcta, se a proporção não é a adequada, o bolo nunca sairá bem e nem a melhor cobertura do universo poderá salvar um bolo intragável.
Para o bolo perfeito não basta a cobertura perfeita mas essencialmente os ingredientes certos, nas proporções ideais, e essa sim, é a receita perfeita.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Cumprimentos

Alguém se lembra de quando era pequeno (ou mais novo) pedir desesperadamente (quase a implorar) aos progenitores para não ter de dar os característicos “dois beijinhos” a um parente ou amigo da família, por razões que não seria delicado divulgar? Pois é, eu lembro-me.
Eu sei que quem vive em sociedade é obrigado a certas e determinadas atitudes de modo a integrar-se mas há algumas que por mais que tente não consigo encaixar, como é o caso de certas saudações.
Na minha opinião, acho que cada pessoa tem o seu espaço, é como se o corpo já viesse com o seu próprio jardim, vedado. Mas, tal como acontece nos verdadeiros jardins e propriedades privadas, há sempre quem não respeite a placa que diz: proibida a entrada. Não vou delimitar esse espaço, não sei se será da mesma dimensão para todos mas penso que toda a gente alguma vez na vida já deve ter achado que alguém estava “perto demais”. É como ter uma bela casa com um amplo jardim, completamente vedado. Há as pessoas que tocam à campaínha e apenas se fala pelo intercomunicador e as pessoas a quem abrimos o portão. Dentro dessas, temos aquelas que não passam do jardim e as que convidamos para dentro de casa. Dentro de casa, temos as que ficam pela zona mais pública da casa, o rés-do-chão, e as que permitimos subir ao segundo andar, uma zona muitíssimo mais restrita. Acho que por aqui já chega, não será necessário alongar-me às divisões...
Acho muito bem que as pessoas se cumprimentem, o que me causa algum desconforto é apenas o “como”. Porque é que duas pessoas que nunca se viram hão-de invadir o espaço alheio? Ultrapassa-me. Penso que o cumprimento menos invasivo é o aperto de mão. Eu entendo que se apele à simbologia mas...não se pode usar um gesto que não implique toque? Seguir o exemplo japonês, neste ponto? Não digo fazer vénias, também não acho apropriado, mas um simples acenar, seja de cabeça ou mão, a meu ver, seria suficiente para que duas pessoas se saudassem. Quando se dirigirem a lavabos públicos façam a seguinte experiência: eu sei que um lavabo público não convida à permanência mas tentem adiar a saída alguns minutos e contem o número de pessoas que após tratar das suas necessidades fisiológicas lavam as mãos. De preferência mantenham-se longe da vista dos indivíduos em análise de modo a que a acção não seja condicionada pela vossa presença. A noção de aperto de mão toma outro sentido.
Ia falar agora dos já mencionados “dois beijinhos” mas lembrei-me que há outra forma de cumprimento ainda mais comum do que essa: os “falsos dois beijinhos”. Mais especificamente, um roçar de caras com banda sonora. Ora, encosta-se a nossa bochecha à bochecha alheia (esteja ela como estiver) e estica-se os lábios de modo a produzir o som de um beijo, este lançado na atmosfera. Chamem-me paranóica mas isto para mim é um sinal. Isto significa que as pessoas não querem realmente encostar os seus lábios à bochecha alheia, mas uma vez que é esse o comportamento socialmente correcto têm esse gesto mas...falsificado. No entanto há sempre quem faça questão de manter a tradição e que faz questão de colar a ventosa às faces alheias, muitas vezes nunca antes vistas (hoje estou a conter-me, não vou mencionar baba, pus, nem nada desse género).
Sobra-nos o abraço..a invasão completa, a tomada total do espaço alheio.
E com isto não me interpretem mal, eu acho bonita a ideia de espalhar amor, carinho, dividir saliva, esfregar bochechas, abraços, etc, sou adepta e acho que só faz é bem mas...que se tenha voto na matéria, que se possa escolher. É só isso que está em causa, podermos escolher as bochechas em que tocamos, o contacto salivar que mantemos e a possibilidade de controlar o acesso ao nosso segundo andar e seus compartimentos...

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

XX e XY

Já tinha pensado abordar este assunto mas estava um pouco reticente uma vez que tenho uma opinião muito pouco partilhada....mas após um pequeno incentivo resolvi comentar.
Existem infinitos termos utilizados para designar uma pessoa do sexo feminino que tenha tido um número, dito elevado, de relações ou parceiros. Agora, termos para o sexo masculino...humm...dos pouquíssimos nomes existentes penso que o mais sonante é “playboy”. Quase que se torna um nome carinhoso comparado com os utilizados para o sexo oposto não é? Curioso.
Já ouvi várias vezes designarem algumas mulheres de “bicicleta”, “corrimão” e a minha preferida de todos os tempos (perdoem-me o termo, vou aligeirá-lo): “banco de sémen”.
Expressem opiniões à vontade, estou completamente de acordo com a liberdade de expressão e tenho que admitir que na maior parte das vezes os termos são proferidos com justa causa absoluta, estou plenamente de acordo mas não é aí que reside o busílis da questão.
A questão é esta: não será conveniente ter o mínimo de moral para emitir certos juízos? Mas fala sempre quem menos deve não é? Este tipo de assunto até se tornaria sério se quem proferisse tais “elogios” pudesse ser comparado a pelo menos uma nota de 500 euros....e não a uma moeda de 1 euro. Mas é sempre o euro que comenta. Voltamos à falta de introspecção...
Não vou defender nem acusar as atitudes de cada um...mas pelo menos que haja igualdade e noção, um pouco de bom senso, um pouco de moral. Se não as há nas atitudes pelo menos que as haja nas palavras proferidas (estou com o senso de humor apurado hoje).
Sou a primeira pessoa a admitir que homens e mulheres pertencem a mundos diferentes mas acho que até o poder dos cromossomas tem limites.
Não posso delimitar a quantidade de relacionamentos permitidos a uma mulher para ser considerada “digna” e penso que depende de alguns factores, cada um de vocês deve ter um número em mente...mas para um homem é certamente ilimitado e pelo que entendo funciona no sentido inverso. Talvez seja o meu cérebro que tenha um número de neurónios inferior ao desejável mas não consigo mesmo perceber porquê (mesmo com as diferenças básicas) que um homem quanto mais parceiras tiver mais “valor” tem e uma mulher, menos.
Será que ter um enorme número de parceiras significa que se tem um enorme clube de fãs? Quem ostenta um número pequeno é porque não tem fãs? Ah, se calhar é isso, é necessário provar que se tem. Talvez esteja a chegar a algum lado. Acho que já tinha comentado o facto do fácil ter sempre grande número de adeptos não foi? (O dia-a-dia é tão diversificado)
Porquê ser selectivo num mundo com tanta variedade e oferta não é? Há quantidade e há qualidade e geralmente não caminham juntas. Digo eu, obviamente.
Bem, segundo as “moedas de 1 euro”, um rapaz que ainda não tenha tido namorada, tenha tido poucas, que não aproveite todas as “oportunidades” que a vida lhe oferece e não esteja sempre em busca das mesmas, coitado: ou é o chamado “Totó”, desprovido dos traços necessários (fornecidos pela mãe Natureza) bem como de atitude, ou seja, desprovido de total capacidade de interessar o sexo oposto (já ouvi isto em algum lado) ou é gay. Não há qualquer outra hipótese, é um dado adquirido. Sim, porque hOMEM que é hOMEM tem que ter um currículo bem recheado e a cavalo dado não se olha ao dente. Quem rejeita é porque deve preferir a igualdade de cromossomas. Como é inatractiva a estupidez humana. Ou não, pelo que vou constatando. Citando um grande amigo: "Apesar de tudo as mulheres continuam a ter têndencia para esse tipo de homem. É o instinto animal no seu esplendor. As fêmeas só são atraídas pelo macho dominante e que tem várias fêmeas para acasalar."
A maioria dos homens não é muito dado a compromisso (devia pôr um ponto final aqui) com uma rapariga “menos digna” (sem compromisso, venham elas), não fica bem e não é bom presságio, para além de ser uma vergonha perante os amigos e familiares não é? Pelo que entendi, há as mulheres para a diversão e aquelas para casar. Neste ponto divido os hOMENS entre os acéfalos e os dotados de cérebro.
No entanto, uma mulher já se pode comprometer com um homem com um extenso currículo, não há qualquer problema. O único currículo em causa é o feminino que neste ponto deve ser o mais breve possível. Um homem pode ter infinitas amantes, ser infiel sem restrições, é coisa de "macho" (pelos vistos quem não trai também é abichanado) e há sempre perdão. A mulher tem um único amante e o rol de "elogios" é infinito, uma galdéria da pior espécie, sendo a porta serventia da casa. Fantástico.
Voltando à igualdade inexistente. Tanto quanto sei, os caros xy não acham piada nenhuma a entrar num lugar e estarem por lá assim, digamos, vários indivíduos conhecedores ao pormenor da sua parceira do momento (este pormenor é essencial, amanhã é sempre um novo dia). É sempre chato: “eh pá, aquele já esteve com a minha mulher...ah olha, aquele ali também...e aquele, ah, espera, esqueci-me daquele ali ao canto... também está ali o outro...”e por aí adiante. Já para não falar das imagens mentais associadas. Agora, digam-me, o que leva certos homens (a maioria) a supor sequer que para uma mulher é um orgulho enorme entrar num estabelecimento e estar lá um rebanho, extremamente conhecedor do pastor? Talvez a maioria dos homens tenha uma auto-estima tão elevada que acredita realmente que é um ser tão excepcional em todos os aspectos que realmente será um orgulho para ela. Se alguém conhecer um termo inferior a ridículo ou patético agradeço que me informe.
Sabem quando se compra roupa nas lojas mais acessíveis e comuns e depois quando é para sair de casa temos sempre aquele momento em que pensamos: e se alguém tem igual? É super incómodo ir a uma festa e estar lá outra pessoa com a mesmíssima indumentária...Por sua vez, a sensação fantástica de comprar uma blusa no estrangeiro, numa loja ainda inexistente por cá é bem mais confortável, a probabilidade diminui.
Imaginem agora...confeccionar a nossa própria roupa. Não ter que recear dar de caras com alguém a usar a mesma coisa.
Essa sim, é extraordinária.
Mas é como tudo meus caros, opiniões.

sábado, 31 de janeiro de 2009

Neoplasia Maligna Emocional

Traduzindo neoplasia maligna para linguagem comum: cancro.
Como é do conhecimento geral, o cancro é uma doença resultante do crescimento e divisão ilimitada de células. É como uma invasão de células, que se vão espalhando e destruindo tecidos, sendo que a maioria é causada por anomalias no material genético.
Tenho um gosto particular por analogias, acho que facilitam a comunicação...e penso que há um sentimento (a que muita gente chama amor mas eu denomino obsessão) que pode ser considerado um cancro emocional.
Também há homens que padecem desta doença mas tenho a impressão que o sexo feminino é bastante mais afectado. Eu sei que o coração tem razões que a própria razão desconhece mas...se o amiguinho do peito (como diz uma amiga minha) tem razões cujas consequências levam à perda da dignidade do seu portador....eu não lhe chamaria amiguinho mas sim inimigo.
Segundo algumas definições que encontrei, dignidade é a palavra que define uma linha de acções correctas, baseadas na justiça e nos direitos humanos, construída através dos anos, dando ao indivíduo uma reputação moral favorável. Implica o respeito dos códigos de ética e cidadania. Baseia-se no reconhecimento da pessoa como ser digno de respeito. É uma necessidade emocional que todos nós temos de reconhecimento público, de se ter feito bem as coisas, quer seja em relação a autoridades, amigos, círculo familiar, social, entre outros.
Eu concordo que haja coisas superiores ao orgulho e em que realmente vale a pena provocar-lhe alguns arranhões quando o caso o justificar. Agora, por mais que tente, não consigo encontrar nenhuma razão que justifique a perda de dignidade ou o mínimo arranhão na mesma. Acredito que temos dois órgãos fundamentais que comandam as nossas acções..cérebro e coração e que muitas vezes o segundo vence e tenta justificar a completa inércia do primeiro..mas se a acção em questão implica a perda de dignidade é porque o que provoca a mesma não vale definitivamente a pena.
Já vi inúmeros programas e filmes sobre violência doméstica..vou tentar deixar de parte as mulheres que dependem exclusivamente do marido, que têm filhos pequenos, sem parentes e que são ameaçadas de morte, apesar de não achar que justifique certas coisas mas não vou comentar estes casos, acho que há vários factores a ter em conta.
O que eu não posso deixar de comentar são casos de cancro emocional explícito de raparigas solteiras, independentes, com familiares, amigos e muitas vezes com excelentes educações....que levam uns “mimos” extra da sua cara-metade, são tratadas de uma forma absolutamente execrável e continuam a defendê-lo com unhas e dentes e perdidamente apaixonadas e ai de quem diga mal do dito cujo.
Em relação a ofensas físicas, do que gosto mais é das respostas, quando eles dizem:" A culpa é tua, tu é que me irritas, depois fazes-me fazer estas coisas." E elas: Ah, a culpa foi minha, eu é que o enervei.” ou “Ele não faz por mal, eu sei que ele gosta de mim, só não posso irritá-lo.” Romântico, no mínimo. Vá lá que ele gosta e a trata assim, o que seria se não gostasse. Faz-me lembrar a típica frase do “despacho” em que estão a terminar uma relação mas fazem questão de frisar que não é por falta de amor. O despachado quase que fica comovido com tamanho desempenho, afinal, o outro só o faz para o bem do despachado, é um sacrifício afinal. Como é comovente a hipocrisia humana.
Não falo só em agressões físicas, cada vez mais acho que essas comparadas com as verbais são pouco significativas, uma vez que (consoante a gravidade das mesmas é claro) essas saram com o tempo enquanto as que ferem a alma muitas vezes são incuráveis. Mulheres chegam ao ponto de ouvir tantas vezes atrocidades, sem o mínimo fundamento que começam a acreditar no que lhes é dito e a achar que realmente são assim e merecem o que recebem. Como o cancro atinge órgãos fundamentais como o coração, cérebro e ainda a visão, permanece a ilusão de amor.
Incluo ainda neste leque todas as acções menos próprias, menos dignas, como traições e todas as outras formas de total falta de consideração. Gosto particularmente das desculpas do "Sou hOMEM", "Foi só uma vez", "Não significou nada" ou ainda a mítica: "Traição só conta se for física". Clássicos.
Pergunto eu na minha insignificância e ignorância...para se amar alguém não é necessário ter o mínimo de respeito, orgulho e admiração pelo outro? Não é suposto o outro tornar-nos alguém melhor?! Pelos vistos não, é possível amar alguém de quem não se consiga elogiar absolutamente nada. É incrível o poder do cancro emocional. Consegue retirar toda a dignidade a um indivíduo antes digno e admirável. Deve ser das coisas mais deprimentes de assistir. O cancro a que me refiro é tão potente que qualquer tentativa de ajuda externa não tem o mínimo efeito e só nos resta assistir. Para se ajudar alguém as pessoas têm de querer ser ajudadas, mas a multiplicação de células é tal que qualquer esforço nesse sentido tem o efeito contrário, chegando mesmo a ser um facto de conhecimento geral e a pessoa infectada manter o mesmo estado de espírito e acções e obviamente o cancro vangloria-se dos seus feitos, afinal, é invencível. Ou não?
Sempre ouvi dizer que confiança e respeito têm que ser conquistados. Perda de dignidade implica perda de respeito por si mesmo..e se o próprio não tem respeito pela sua pessoa penso que seja impossível outro ser ter, tornando-se um ciclo vicioso.
Não podemos controlar as acções dos demais mas podemos controlar a forma como reagimos às mesmas e temos o dever de controlar as nossas. Não somos julgados pelas nossas intenções, dessas está o inferno cheio, como se costuma dizer. Somos julgados pelo que fazemos, pela forma como agimos e afinal, é isso que nos define e acima de tudo, nos distingue. Na minha opinião, quando um ser humano perde a dignidade e a consciência já não tem mais nada que valha a pena.
No entanto, ambas são recuperáveis e acredito que a cura existe, mas para haver cura........é necessário querê-la!

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Tabaco

Acho que cada um faz o que quer, tanto da sua vida como do seu corpo...cada um sabe de si...mas a minha mãe sempre me ensinou que a minha liberdade termina quando a do outro começa.
Os malefícios do tabaco para a saúde são bem conhecidos (não vou mencionar os estragos provocados nas finanças)..não sei se já viram aqueles mails que circulam com fotos...que exibem vários tumores, desde a língua aos pulmões, provocados por anos e anos de absorção de nicotina... Nunca experimentei, nunca tive sequer a mínima vontade e para dizer a verdade sempre me causou repulsa..e continuo com a ideia de que a maioria das pessoas, principalmente os jovens, quando começaram a fumar começaram como forma de inserção social. Há uma incapacidade enorme de pronunciar a palavra "não" entre os jovens (principalmente, não só) que eu nunca entendi, ultrapassa-me...nunca percebi se é o “espírito de manada” que tem algum efeito, se é a frase “não és capaz, maricas” ou se é apenas uma questão de total falta de personalidade...de qualquer modo, como disse, cada um sabe de si...
Para além de não me atrair minimamente, não consigo perceber como é que alguém (para além das razões que já referi anteriormente) começa a usar uma coisa que sabe que lhe provocará danos na saúde mas não só...(para mim morrer mais cedo é o menos, mas acho que cancro não é das formas menos penosas de sucumbir)..Vejamos..os dentes tornam-se amarelos, as gengivas e lábios de um roxo escuríssimo, como um cadáver em decomposição e aquilo que mais me incomoda....um cheiro nauseabundo que por mais que tentem fica entranhado, em roupa e corpo, passa a fazer parte do cheiro natural da pessoa...não percebo....mas também não tento. Também já ouvi várias pessoas dizerem que “fumar dá muito estilo”, resposta que para mim nem sequer merece comentário, especialmente quando são homens com os dois dedinhos esticados, lábios a fazer biquinho e olhos semicerrados. Sexy, certamente.
Bem, mas não é por questões estéticas ou de saúde que estou a falar nisto. Já saiu a tão esperada lei do tabaco (esperada por mim obviamente) mas também não adiantou muito porque pouco mudou. Achei extremamente interessante a revolta da maioria dos fumadores em relação à nova lei...acho que com um pouco de bom senso qualquer pessoa, mesmo fumadora, perceberia que estar a tentar saborear uma refeição e a levar com o fumo da mesa ao lado não é, de todo, agradável. Não sei se é mesmo azar meu mas os meus dedos já não são suficientes para enumerar a quantidade de vezes que os caríssimos veneradores de nicotina fizeram questão de esticar o braço com o dito cigarro na ponta, oportunamente apontado à minha cara..talvez seja eu que tenha azar com o vento, deve mudar sempre de direcção consoante a minha posição....
Acho que ter atenção à direcção do fumo, mesmo em lugares públicos não é pedir muito. Pelos vistos é, porque 90% das pessoas a quem gentilmente pedi para redireccionarem o fumo ou fizeram questão de chegar o cigarro ainda mais próximo dos meus orifícios nasais ou ficaram ofendidíssimos e disseram algo do género “se está mal, mude-se” ou "é um lugar público". Educadíssimos. Mas sim, o lugar é público, os meus pulmões e afins é que por acaso são privados.
Voltamos à história da liberdade e dos seus limites...mas não vale a pena não é? A falta de consideração pelos vistos é superior ao nível de nicotina existente no sistema de alguns fumadores.
Mas pronto, para não dizerem que só critico...já conheci um ou dois fumadores que muito educadamente me perguntaram: “importas-te que fume?”, “o fumo está a incomodar-te”? Como é apelativo um ser humano com consideração pelo outro. Fascinante, já que é um fenómeno tão raramente observado.
O meu apelo é apenas este meus caros concidadãos...querem ter “estilo”? Façam favor. Tenham. Cada um sabe de si, é a opção que fizeram, eu respeito. Agora, a minha opção é não fumar. Posso?

domingo, 25 de janeiro de 2009

Intervenção imprevista

Ok…o meu blog foi inaugurado ontem…desde então tenho recebido incentivos, sugestões, críticas mas também alguma apreensão em relação às consequências. Pelos vistos há o receio que me tomem como “Senhora da verdade” ou entendam o que digo como “ataques”, o que não é o caso. Estou longe da perfeição e tenho perfeita noção disso. Em relação a ficarem a “gostar menos de mim” como já ouvi, não me diz nada. Como se costuma dizer, mais vale ser odiado por dizer a verdade do que adorado por mentiras ou hipocrisia. Eu sei que é uma característica essencial na sociedade mas por isso mesmo é que tenho um blog, onde pelo menos aqui, posso deixá-la de fora. Quem me conhecer minimamente bem e ler o que eu escrevo e mudar a sua opinião sobre mim para pior então afinal não me conhecia nem minimamente. Devo ainda referir que a minha afeição pelas pessoas não varia consoante a sua semelhança a mim, sendo que muitas das pessoas por quem nutro maior afeição têm muito pouco em comum comigo, incluíndo opiniões (e até há as que têm herpes, vejam só).
Não é de hoje que escrevo desabafos como estes mas nunca os tornei públicos. Fi-lo por insistência de alguns amigos e por achar que opiniões devem ser partilhadas e vou manter o blog. Ninguém é obrigado a aparecer. Podia pedir desculpa caso fira algumas susceptibilidades mas não o farei, é apenas a minha opinião que expresso neste espaço e nada mais do que isso.

Talheres

Talheres...aqueles objectos engraçados que costumam estar situados próximos do prato e que servem para auxiliar o transporte de comida do prato e afins, à cavidade bucal. Eu sei que há temas muito mais interessantes do que talheres, mas... o facto das pessoas não perceberem que uma faca, à mesa, hoje em dia, tem apenas a função de cortar afecta-me o sistema nervoso. Não vou falar da forma errada como a maioria das pessoas pega nos talheres apesar de também me provocar um certo incómodo...mas não consigo abster-me de falar na faca.... Têm o garfo numa mão e a faca na outra...mas a quantidade de pessoas que utiliza a faca como garfo é inacreditável....têm alguma coisa contra o garfo? É que já nem vou mencionar a falta de educação que é introduzir a faca na boca...(e a visão) fico-me pelo facto de ser um objecto cortante e a boca, principalmente os lábios, uma zona extremamente sensível....
Permanece assim a dúvida: falta de chá, uma questão de aversão ao garfo ou alguma tendência masoquista?

sábado, 24 de janeiro de 2009

Solteiros

Há um certo tipo de comentário que me enerva de sobremaneira e que acho de um nível de inteligência bastante baixo mas tenho-me abstido sempre..porém, hoje, achei que já chegava. Há duas noções partilhadas por uma considerável fracção da raça humana às quais quase que acho piada: considerar que uma pessoa solteira tem esse estado uma vez que não tem capacidade para mais e considerar que se uma pessoa já teve 100 relacionamentos é porque é um sex-symbol.
Estamos em época de saldos e acho que este assunto pode ser encarado da seguinte forma...ora, se uma loja como o C&A (cujos artigos não podem ser considerados os de melhor qualidade do mercado) está em saldos, obviamente a loja estará extremamente concorrida. Roupa barata, vamos aproveitar! No entanto, uma loja de griffe como a Prada, por exemplo (neste caso até a Massimo Dutti serviria), que poucos saldos fazem, e que mesmo com algum saldo os artigos apresentam um preço elevado, provavelmente continuará com pouca afluência. Eis a questão: porquê que alguém vai fazer compras à C&A e não à Prada? Por opção? Não me parece. Imaginemos que, certo dia os preços se tornassem iguais nas duas lojas. Ficaria a C&A vazia? Deixo à vossa imaginação.
Meus caros, não é por uma pessoa não se gabar 30 vezes ao dia da quantidade de “fãs” que tem ou por não retribuir a atenção dos mesmos ou por escolher estar só do que “menos bem acompanhada” que a pessoa é uma pobre coitada, absolutamente desprovida de capacidade de interessar o sexo oposto (ou até o mesmo, nos tempos que correm...). Uma pessoa pode ter dinheiro para comprar 100 pastilhas elásticas mas isso não significa que o vá ou queira fazer pois não? Desde cedo sempre ouvi dizer que o fácil tem sempre grande número de adeptos.
Há quem prefira ter 100 blusas da C&A e quem prefira ter apenas uma, mas Prada. Gostos!

Herpes

Tal como tinha dito, o Herpes tem direito ao seu próprio artigo. Dado a sua abundância neste século e à estupidez humana, eu acho que merece.
Eu ainda não percebi se é do conhecimento mundial que o herpes é um vírus..mas dadas as atitudes das pessoas portadoras que tenho observado, prefiro pensar que não, que é apenas uma questão de ignorância e não de estupidez e má vontade.
Sou bióloga, não sou médica e não tenho herpes (pelo menos que eu saiba). Quando comecei a vislumbrar pessoas com bocas com feridas fiquei intrigada. Não fui para a faculdade de medicina, achei que era mais rápido e económico ir ao Google e escrever herpes. Pois bem, quem se der ao trabalho, irá descobrir que o herpes é um vírus, que afecta principalmente a mucosa da boca (dizem que é o mais comum mas não sei se não será apenas o mais vísivel....) e a região genital, podendo até causar graves complicações neurológicas. Antes que me esqueça, aconselho os mais curiosos a não pesquisar fotos, especialmente de herpes genital. Pois bem...eu na minha boa vontade, quando me deparo com alguém a deambular com o seu herpes labial (só vejo esse felizmente) ainda tento constatar o óbvio, do género: “Ah, que chato, tás com herpes.” Ao que 99% das pessoas me responde: “Não é herpes, é da febre.” Meus amigos, volto a frisar que não passei pela faculdade de medicina mas o Google realmente é uma ferramenta fantástica. Ora bem, diz-me o Google que o herpes é um vírus que é reactivado em alturas de fragilidade do indivíduo, como stress, febre, irradiação solar excessiva, trauma ou terapia com cortisona.
Volto a pensar que o problema é a ignorância...falta de informação, será? Talvez os 300 anúncios diários sobre herpes labial sejam insuficientes...os 1001 pensos protectores e cremes como o Zovirax são completamente desconhecidos...eu entendo, a falta de informação é um mal terrível. Nunca me passaria pela cabeça que uma pessoa sabendo que tem um vírus activo (já mencionei que não tem cura?), andaria por aí a cumprimentar (e com isto quero dizer esfregar o vírus na pele alheia), partilhar bebida e comida com os restantes mortais desprovidos de herpes? Longe de mim. Ah sim, esqueci-me de frisar que o vírus é transmitido pela saliva e contacto directo com a zona infectada. Pois é, contacto com a zona infectada....pois...sem contar com o facto das mãos tocarem na boca, depois tocarem sabe-se lá onde, de ao falar ser sempre projectada saliva, etc..
O poder da disseminação destas coisas é incrível....mas nada comparado com o da estupidez humana.

Inteligência

Penso que praticamente toda a gente sabe que existem vários tipos de inteligência..linguística, espacial ou naturalista, lógica, musical, intrapessoal, interpessoal e cinética. Não sou perita no assunto, portanto, caso esteja enganada agradeço que me avisem. Qual a mais importante? Deduzo que não se chegue a um consenso.
Na minha humilde opinião acho que se alguém tiver todos os tipos de inteligência muito elevados mas não tiver tacto e a capacidade de se auto-avaliar não lhe servirá de muito qualquer outro tipo de inteligência. Cada vez mais chego à conclusão que esse tipo de inteligência não pode ser obtida ou treinada, acho que não vale mesmo a pena, ou a têm ou não.
Self-made man é alguém que tem a capacidade de ver os erros dos outros, aprender com eles e consegue olhar para si mesmo e evoluir. Mas isto torna-se caricato de certa forma, porque há mesmo pessoas que não têm a mínima capacidade de introspecção! Quando se ouve alguém criticar/gozar outra pessoa ou porque por exemplo misturou uma blusa verde com calças vermelhas ou come com a cabeça no prato, etc, uma pessoa com o tipo de inteligência a que me refiro pára e pensa: eu faço isso ou não? Visto-me assim? Eu também como assim? Interroga-se e evolui. O resto dos mortais não, riem-se sem perceberem que se estão a rir deles próprios. Lá está a alegria da ignorância, tão comum.
Passemos a outro exemplo...voltando à gramática, imaginemos que estamos a conversar com alguém que em vez de dizer "se tu vires" diz "se tu veres"! Detecta-se o erro...e numa tentativa de ajudar o outro, arranjamos maneira de numa das frases seguintes dizermos "se tu vires"! Para alguém com o tal tipo de inteligência esta frase faria "click" na sua mente e a pessoa interrogar-se-ia: eu não digo assim! Será que estou errado? Voltamos então à evolução e ao self- made man.
Não sei se vos acontece o mesmo mas já passei inúmeras vezes por esta situação chatíssima...imaginem que estão cheios de sede..como pessoa prevenida que costumo ser tenho uma garrafa de água sempre comigo..(mas ocorre exactamente o mesmo se tiver acabado de a comprar) pego na minha garrafa (felicíssima por ser uma pessoa prevenida), estou a abrir a garrafa...e alguém diz: “Eh, estou cheio de sede, dá-me um golo!” Não vou dizer que o mundo desaba nesse momento mas a afluência de sangue ao meu cérebro aumenta certamente. Como pessoa educada que tento ser, só me resta oferecer a garrafa. O que acho mais fantástico nestes acontecimentos é o facto da pessoa em questão nunca reparar que eu não volto a tocar na água e na maioria das vezes até digo: “Podes ficar com ela”. Devem julgar que a sede me passou só de olhar para a garrafa. Já ouvi falar em “comer com os olhos” mas beber com os olhos, para mim é novidade. Este assunto pode-me levar aos restaurantes...ao momento em que o garçon traz por exemplo aquelas cenourinhas apetitosas ou aqueles pratinhos com molhos...a maior parte dos restaurantes não disponibiliza pratinhos nem talheres para o couvert....mas pode-se sempre pedir, não? Claro que não! Vamos todos espetar o nosso próprio garfo e bocados de pão cheios de germes na comida comum. Também nunca ninguém se questiona porquê que falei tanto no excelente aspecto das cenouras e não as comi. Não vale a pena tentar explicar que saliva não é o meu tempero favorito, especialmente quando há pessoas com herpes na mesa. O assunto do Herpes fica para outro dia, tem direito ao seu próprio artigo.
Outro caracterítica interessante..quando se frequenta a casa de alguém..toda a gente tem as suas rotinas, os seus objectos, a seu lugar marcado na mesa, no sofá (na maioria dos casos)..há quem tenha a sua própria caneca de uso exclusivo, etc...para além da falta de educação, voltamos à tal inteligência quando alguém se senta no nosso lugar seja à mesa ou no sofá, pega na primeira caneca que vê (geralmente sempre a nossa) e por aí em diante...alguém já ouviu falar em tacto? Custa assim tanto perguntar ao dono da casa que caneca pode usar? Onde se deve sentar? Este assunto seria infindável por isso fico por aqui..
Tentar mudar ou educar os outros não cabe a mais ninguém a não ser aos próprios, a não ser, é claro, pais a filhos. Dizer as coisas directamente, apontar o erro de forma directa seria uma falta de tacto, dependendo do grau de confiança com a pessoa em causa obviamente..e é como tudo, pode-se dizer tudo mas a maneira como se diz é fundamental. Daí existirem as tais "pistas" que deveriam fazer click...mas não vale a pena, já cheguei a essa conclusão. De qualquer modo, somos apenas responsáveis pelas nossas atitudes e pela imagem que passamos e as de mais ninguém não é verdade? Sorte a nossa!!

Helloise´s Blog

“Two things are infinite: the universe and human stupidity; and I'm not sure about the universe.”

Já dizia Einstein... Pois é, dada a crescente estupidez humana e suas consequências, resolvi criar o meu próprio blog, especialmente dedicado a esta característica tão comum em Homo sapiens...encarem-no com uma forma de desabafo e nada mais. Provavelmente ninguém vai parar por aqui e quem parar pouco vai ligar mas aqui ficam alguns pontos de vista, pode ser que alguém os partilhe comigo..Quiçá!

“You can chain me, you can torture me, you can even destroy this body, but you will never imprison my mind.” Gandhi

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Eloise de Sá