sábado, 28 de fevereiro de 2009

Cumprimentos

Alguém se lembra de quando era pequeno (ou mais novo) pedir desesperadamente (quase a implorar) aos progenitores para não ter de dar os característicos “dois beijinhos” a um parente ou amigo da família, por razões que não seria delicado divulgar? Pois é, eu lembro-me.
Eu sei que quem vive em sociedade é obrigado a certas e determinadas atitudes de modo a integrar-se mas há algumas que por mais que tente não consigo encaixar, como é o caso de certas saudações.
Na minha opinião, acho que cada pessoa tem o seu espaço, é como se o corpo já viesse com o seu próprio jardim, vedado. Mas, tal como acontece nos verdadeiros jardins e propriedades privadas, há sempre quem não respeite a placa que diz: proibida a entrada. Não vou delimitar esse espaço, não sei se será da mesma dimensão para todos mas penso que toda a gente alguma vez na vida já deve ter achado que alguém estava “perto demais”. É como ter uma bela casa com um amplo jardim, completamente vedado. Há as pessoas que tocam à campaínha e apenas se fala pelo intercomunicador e as pessoas a quem abrimos o portão. Dentro dessas, temos aquelas que não passam do jardim e as que convidamos para dentro de casa. Dentro de casa, temos as que ficam pela zona mais pública da casa, o rés-do-chão, e as que permitimos subir ao segundo andar, uma zona muitíssimo mais restrita. Acho que por aqui já chega, não será necessário alongar-me às divisões...
Acho muito bem que as pessoas se cumprimentem, o que me causa algum desconforto é apenas o “como”. Porque é que duas pessoas que nunca se viram hão-de invadir o espaço alheio? Ultrapassa-me. Penso que o cumprimento menos invasivo é o aperto de mão. Eu entendo que se apele à simbologia mas...não se pode usar um gesto que não implique toque? Seguir o exemplo japonês, neste ponto? Não digo fazer vénias, também não acho apropriado, mas um simples acenar, seja de cabeça ou mão, a meu ver, seria suficiente para que duas pessoas se saudassem. Quando se dirigirem a lavabos públicos façam a seguinte experiência: eu sei que um lavabo público não convida à permanência mas tentem adiar a saída alguns minutos e contem o número de pessoas que após tratar das suas necessidades fisiológicas lavam as mãos. De preferência mantenham-se longe da vista dos indivíduos em análise de modo a que a acção não seja condicionada pela vossa presença. A noção de aperto de mão toma outro sentido.
Ia falar agora dos já mencionados “dois beijinhos” mas lembrei-me que há outra forma de cumprimento ainda mais comum do que essa: os “falsos dois beijinhos”. Mais especificamente, um roçar de caras com banda sonora. Ora, encosta-se a nossa bochecha à bochecha alheia (esteja ela como estiver) e estica-se os lábios de modo a produzir o som de um beijo, este lançado na atmosfera. Chamem-me paranóica mas isto para mim é um sinal. Isto significa que as pessoas não querem realmente encostar os seus lábios à bochecha alheia, mas uma vez que é esse o comportamento socialmente correcto têm esse gesto mas...falsificado. No entanto há sempre quem faça questão de manter a tradição e que faz questão de colar a ventosa às faces alheias, muitas vezes nunca antes vistas (hoje estou a conter-me, não vou mencionar baba, pus, nem nada desse género).
Sobra-nos o abraço..a invasão completa, a tomada total do espaço alheio.
E com isto não me interpretem mal, eu acho bonita a ideia de espalhar amor, carinho, dividir saliva, esfregar bochechas, abraços, etc, sou adepta e acho que só faz é bem mas...que se tenha voto na matéria, que se possa escolher. É só isso que está em causa, podermos escolher as bochechas em que tocamos, o contacto salivar que mantemos e a possibilidade de controlar o acesso ao nosso segundo andar e seus compartimentos...

2 comentários:

  1. desculpa lá...pior pior é tu chegares á casa de alguem que existe uma cambada de gente e depois dás um beijinho a um tens de dar a todos...então kd se trata de familia...nem tens opção...é horrivel...por mim nã hã bejinho nenhum pa ninguem!! ah já agora discordo do bjinho que só dás a face é falso...no meu caso só msmo dou face pk minha boxexa é enorme e tenho e fazer um esforço enorme para dar um bjinho molhado na boxexa do outrooo...
    bruna

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  2. Desde já deixa me dizer que achei o blob super interessante... Ora andava eu a passear pelo meu abandonado mail e dei por mim num local utópico, a tratar de questões tão corriqueiras mas no fundo de extrema relevância e que nunca ninguém se da ao trabalho de ponderar. Estas sob o ponto de vista de alguém, não sei se no lugar, mas sem dúvida com os neuronios todos, concede uma nova visão ao mundo que de uma forma geral não tem capacidade de pensar por si próprio...
    Num comentario geral, chego a conclusão que nao passamos de um bando presunçosos patetas,contra mim falo, que ao fim de 6 anos se dizem muito unidos mas na realidade não se conhecem sequer a metade. É pena, ta visto que fica tudo a perder algo, e oportunidades não faltaram... O que vale é que como diz o ditado: "nunca é tarde"!
    Quanto a conjecturas sociais que afectam o quotidiano e no fundo as bases de crescimento de cada indivíduo, nota se cada vez mais a revolta de uma geração elite, o que denota uma certa evolução, no entanto seria necessário eliminar toda a espécie humana, pois é quase impossível evitar a influência destes parâmetros, num ser que está apartir do momento que nasce condicionado, a atirudes, expressões, ideais que mesmo sem os entender ficam gravados intrinsecamente. Ao crescerem, por muito que achem estes "tabus" inaceitáveis estão como que programados a não gerar grande alarido, e apesar de revoltados não manipular outros na mesma direcção, a história ensinou nos que no exemplo dos grandes ditadores, as ideias independentes são por regra geral a face do "mal", e com isto obedecemos a uma sociedade marginalizante, só porque não é partilhado o mesmo sentimento...
    Solução: só o genocídio global!
    Seguido por uma civilização utópica criada sem valores, que seguisse apenas e exclusivamente instintos! O caos, talvez..
    Até lá resta nos reclamar, revolucionar pensamentos e esperar que a selecção natural faça o seu trabalho, sem se enganar!

    Vá moça, foi uma fuga ao conteudo do post mas generalizado para todo blog, não te roubando o protagonismo, como é obvio... Continua o bom trabalho!

    Bjx, flor

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