domingo, 3 de maio de 2009

Álcool

Mês de Maio, semanas académicas. Agrupamento de estudantes, Álcool.
Continuando com a minha teoria de que a população mundial pode ser dividida em pessoas do tipo X e Y, aqui fica mais um post sobre um dos mistérios X que hei-de falecer sem compreender na sua totalidade.
Tenho quase ¼ de século de existência e as minhas experiências com álcool resumem-se a um molhar de lábios com vinho do porto. Acreditem ou não, é a mais pura verdade. Ainda hoje muito boa gente perde apostas graças a esta minha qualidade (segundo o meu ponto de vista), atraso (segundo a maioria dos pontos de vista). A maior parte das pessoas acha hilariante e que sou a comédia personificada. Este “comportamento de desvio” é partilhado pelo meu irmão, mais velho do que eu. Daí, a maioria das pessoas pensa: “Ah, isso são os pais.”
Tem a sua piada, uma vez que o que está implícito neste tipo de comentário é que os pais provavelmente proibiram as pobres almas de tocar em determinadas substâncias, ou são alcoólicos e os pobres rebentos ficaram traumatizados com os exemplos paternos ou de alguém na família. Lamento informar os inúmeros elaboradores da teorias mas nenhuma se aproxima da verdade. Ambos os progenitores dos “desviados” apreciam um bom copo de vinho à refeição em determinadas ocasiões. Peço especial atenção para o pormenor do “um”. Nunca ocorreu a mínima tentativa de afastar a descendência do “diabo líquido”, tendo surgido a proposta em inúmeras ocasiões.
Assim, é uma opção pessoal. Não vou igualar álcool a droga mas o nível de atracção que provoca em mim é exactamente o mesmo. Chamem-me comichosa mas o cheiro por si só repele-me. Recorda-me aqueles xaropes que por vezes se tem de tomar mas em que se cobre as fossas nasais devido ao odor.
No entanto, apesar de não ser adepta eu consigo perceber que alguém tome um copo ou outro em determinadas ocasiões. Se me disserem que tiram algum prazer disso, que o sabor é fenomenal, que uma cerveja gelada no Verão sabe super bem, ok, não digo nada, até aí o meu cérebro limitado consegue alcançar. O busílis da questão não é o álcool em si, mas sim a quantidade ingerida. Volto a frisar, a quantidade ingerida.
O que é que leva uma pessoa sã a marcar “bubas”?! “Então, hoje vamos jantar fora? Um cinema? Vamos ver um jogo? Vamos andar de barco? Está um dia magnífico”, ok...agora, “Vamos apanhar uma buba hoje à noite?” O meu cérebro entra em bloqueio..mas pelas reacções dos participantes nestes sábios diálogos isto equivaleria a alguém dizer-me: “Pá, olha, ganhei o euromilhões, vou dar-te uma parte.” A mim, particularmente, quando ouço a célebre frase, o meu cérebro problemático faz a seguinte tradução: “Vamos tornar-nos mentalmente atrasados e perder completamente a dignidade? Com sorte fazemos uma competição de regurgitamento e acabamos a noite ou no hospital ou com alguém desconhecido sem nos lembrármos de metade. Vai ser o máximo.”
Por favor, elucidem-me. Já ouvi “n” explicações e a maioria delas resume-se a “esquecer os problemas” e “tornar-me mais desinibido”.
Quanto à primeira, não sei se sou só eu que reparo mas os problemas permanecem após o efeito do álcool, álcool não afoga mágoas e na maior parte das vezes o indivíduo acaba com ainda mais problemas na fase pós-alcool do que começou. Curiosidades. A explicação da desinibição...falta de personalidade será mais preciso. Necessitar de “extras” para ser a pessoa que se queria ser, para adquirir coragem para fazer coisas que de outro modo não se conseguiria fazer para mim é apenas falta de personalidade e uma farsa. Mas mais uma vez, é apenas a minha humilde opinião, sou apenas uma pessoa “desviada”.
Não tenho nem nunca tive espírito de manada e não tenho a mínima dificuldade em utilizar a palavra “não”. No entanto, acho que é aí que reside a resposta às perguntas que fiz anteriormente. Quem não bebe é o dito “betinho”, “mariquinhas” e, supostamente, excluído socialmente. Quem não segue a manada geralmente fica sozinho, não é aceite e como se costuma dizer, se não os consegues vencer junta-te a eles.
Honestamente, acho que se as pessoas fossem filmadas no seu estado alcoolizado e essa gravação lhes fosse mostrada no seu estado sóbrio duvido muito que voltassem sequer a tocar em álcool. Também é algo a que ninguém vai aderir, havendo também a dificuldade de encontrar um cameraman sóbrio, claro.
Apesar de nunca ter bebido, tenho uma vasta experiência em pessoas alcoolizadas, amigos e desconhecidos, o que ainda reforça mais a minha opinião sobre o álcool. Tenho que admitir que numa fase inicial algumas pessoas até me divertem um pouco e se tornam bastante mais interessantes do que no seu estado normal mas dum modo geral, as cenas são deploráveis. Já vi de tudo.
Outro ponto que me ultrapassa. Ainda há poucos meses tive um intoxicação alimentar grave, podia ter formado um novo oceano de conteúdos estomacais e digo-vos, nunca me senti tão mal fisicamente. Só a possibilidade de poder regurgitar deixa-me aterrada, o que ainda aumenta o mistério que envolve o excesso de álcool, para mim. Como é que além de perder completamente a dignidade, alguém pode induzir um processo que vai culminar em dores de cabeça e má disposição? Transcende-me de sobremaneira.
Acho fantástico o orgulho que demonstram após esses eventos, pelos vistos quanto mais se conseguir ingerir mais estatuto se tem. Conheço pessoas com graves problemas de fígado nos seus 20 e poucos. Mas o que é um fígado comparado com um estatuto social mundialmente reconhecido nas comunidades académicas e as inúmeras histórias de que se poderão gabar? Quem não quer ser detentor do título de maior ingestão de cerveja, de maior número de bubas? Existe orgulho maior? Nada é mais importante que ser aceite não é? A dignidade que vá para as urtigas, quem precisa disso? Venha a hepatite alcoólica e a cirrose, a gastrite, pancreatite e a hipertensão, só não se perca a inserção social! Cheers!!

12 comentários:

  1. Antes de mais, parabéns pelo post, mais uma vez conseguiste fazer um excelente trabalho abordando um assunto que já merecia ser discutido. Concordo plenamente com tudo o que escreveste e deixa-me sublinhar que acho que captaste bem a essencia (assim como os supostos aspectos psicologicos) das pessoas que bebem até ao estado de buba, assim como as razões por de trás deste triste facto. As pessoas tendem a seguir sempre o espirito de manada e tal como frisaste apenas para se sentirem inseridos no grupo. Quanto às minhas experiencias com alcool não posso dizer que se limitaram a um simples molhar de lábios no vinho do porto, mas tb não passaram da ingestão de apenas uns ml. Tal facto deveu-se apenas por curiosidade e posso dizer que não consigo perceber a loucura das pessoas por esse tipo de bebida. Tirando essa experiencia, já partilhava a mesma visão que tu sobre este assunto.Sempre fui posto tb um pouco de parte por não ter tais hábitos em relação a drogas e alcool, e sempre foi rotulado tb de betinho. O que me leva a ficar contente e orgulhoso por não fazer figuras e ter um comportamento aceitavel quando tou a conviver com outras pessoas. Acho que muitas pessoas não têm noção dos maleficios destas bebidas em excesso, nem medem as consequencias quando abusam na sua ingestão, e é triste ver que cada vez mais jovens aderem a esta espécie de bilhete de entrada para se inserirem em grupos.
    Bom não me alongo mais, continua com o excelente trabalho que tens feito até agora, podem até haver opiniões contraditorias mas acho que todos os que lêem o teu blog têm de concordar que defendes sempre muito bem os teus pontos de vista. E mais uma vez parabens pelo post**

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  2. Muitas pessoas gostam de consumir bebidas alcoolicas, exclusivamente pelo seu sabor e pelo prazer que isso lhes dá.
    Este texto só comtempla as pessoas que só cheiram o alcool ou aquelas que em todas as opurtunidades se embebedam até cair!

    Acho que é preciso mostrar um conhecimento melhor da realidade!

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  3. Ou talvez o que seja necessário seja uma leitura mais atenta:

    "No entanto, apesar de não ser adepta eu consigo perceber que alguém tome um copo ou outro em determinadas ocasiões. Se me disserem que tiram algum prazer disso, que o sabor é fenomenal, que uma cerveja gelada no Verão sabe super bem, ok, não digo nada, até aí o meu cérebro limitado consegue alcançar. O busílis da questão não é o álcool em si, mas sim a quantidade ingerida. Volto a frisar, a quantidade ingerida."

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  4. Como em tudo na vida, ponderação e bom senso são virtudes a aplicar. Sobretudo neste contexto.

    Aprecio e partilho do teu ponto de vista mas também não perco de vista que na diferença reside a diversidade. Mesmo nesse universo ébrio de difícil entendimento (até porque a maioria dessas pessoas (?) gasta dinheiro dos seus ascendentes em quantidade directamente proporcional com o volume de álcool ingerido), também eles têm direito a existir (e de que maneira).

    Louvo o teu "não" apesar de, num final de tarde estival numa qualquer esplanada das Dunas com o Pôr de Sol em frente e a espuma do mar aos pés, pouco se poder equiparar ao sabor de uma sangria bem fresquinha...

    Fica o convite ;-)
    Cheers,
    Angavu

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  5. Tu és a típica moralistazinha portuguesa, fruto de uma educação falhada numa sociedade mesquinha. Cresce, viaja e aparece antes de escreveres baboseiras.

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  6. Mais um comentário anónimo, quanta coragem. Ao ler isto, daria a entender que a pessoa que se esconde por detrás do computador será um perfeito conhecedor da minha pessoa, especialmente da minha moral, educação e diário de bordo.
    Apenas para lhe dar alguma luz (de que bem precisa), por piedade: 1º Não sou portuguesa; 2º É impossível ter melhor educação do que a que me foi concedida (mas é necessário um determinado nível para conseguir perceber e dar valor a isso); 3º Portador de um diário de bordo mais preenchido do que o meu, talvez hospedeiros e comandantes; 4º Retribuo a parte das baboseiras

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  7. Quem é essa bactéria anónima, que só entrou para destruir, e que tem todas as características de pessoa grandemente recalcada, a quem atingiste na "mouche", e que revelou nada saber de ti?
    Se não querem fazer uma crítica construtiva para que lêem o que escreves? Só gostaria de saber qual o background educacional dele(a) para ousar falar mal da tua educação...Acho que todos nós devemos contribuir para uma sociedade melhor. Se fosse a ti apagava este tipo de comentários....

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  8. hahahahaha...o texto está bem fixe, partilho da tua opinião, e ainda bem né...já vi que não dás tréguas a quem desvia...

    quando li o comment do nosso amigo anónimo confesso que fiquei um bocadinho apreensiva mas...fogo...conseguiste derrota-lo em meia dúzia de vírgulas. Gostei ;)(e não, não pertenço aquela maioria facebokiana que diz gosto e és lindo de morrer a todos os amigos, conhecidos-isto referindo ao teu último post).

    Tenho que parabenizar-te pelo blog, ainda não tive oportunidade para ler todos os textos e podes crer que se porventura encontrar algum em que não esteja de acordo, não hesitarei em exprimir a minha opinião sincera e assinar em baixo ;)

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  9. Thank u Patty ;) Fico à espera dos próximos comments então ;) xoxo

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  10. Apanhar a bezana implica perder o controle.

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  11. Não necessariamente. Quem já apanhou algumas sabe do que falo.

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    1. E quem ja lidou com muitos, tambem. Ate podem admitir que estao bebedos mas maioritariamente, acham sempre que estao funcionais e tem tudo controlado. Nao estao, de todo, mas so quem esta sobrio e que consegue avaliar.

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